RN terá fábrica de cimento operando com hidrogênio verde em 2027
Com um investimento de aproximadamente R$ 40 milhões, a CPFL Energia e a Mizu Cimentos, do grupo Polimix, anunciaram uma parceria para a implantação de uma planta de hidrogênio verde no Brasil voltada à produção de “cimento verde”, material fabricado com menos emissão de carbono. Segundo o governo, o Rio Grande do Norte será o primeiro estado do Brasil a adotar o H2V. A previsão é que a planta, que funcionará dentro das instalações da Mizu, localizadas na cidade de Baraúna, no Oeste potiguar, comece a operar em 2027. O projeto visa substituir o petróleo pelo hidrogênio verde como combustível nos fornos da fábrica, contribuindo significativamente para a descarbonização do setor.
Bruno Monte, diretor de Estratégia e Inovação da CPFL Energia, explica que o projeto é um marco histórico, que se alinha às pautas globais de sustentabilidade. “O hidrogênio é um componente bem usual, mas que tradicionalmente vem de fontes poluentes. A grande mudança aqui é a produção do hidrogênio verde através de um eletrolisador, que usa energia renovável, praticamente sem nenhuma emissão. Esse hidrogênio entra na cadeia de produção do cimento, substituindo combustíveis fósseis e diminuindo emissões. É um passo crucial no nosso compromisso com a sustentabilidade,” afirmou Monte.
O projeto prevê a instalação de um eletrolisador na planta da Mizu Cimentos, em Baraúna. Este equipamento de alta tecnologia, do tamanho de um contêiner, é fundamental para o processo de eletrólise, onde a energia elétrica proveniente de fontes renováveis, como solar ou eólica, é utilizada para dividir as moléculas de água em oxigênio e hidrogênio. O hidrogênio resultante será então utilizado como combustível nos fornos da fábrica de cimento, substituindo o uso de petróleo e reduzindo significativamente as emissões de CO².
Avanços na pesquisa
José Antero, diretor-geral da Polimix, que compreende a Mizu Cimentos, destacou a importância de avançar na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias como o hidrogênio verde. “O hidrogênio verde ainda é um combustível, que nos métodos atuais, ainda é muito caro. Razão pela qual ainda não temos um uso maciço, mas é o combustível do futuro. Estamos dando um passo muito importante no sentido de abrir caminhos. Para isso, nós precisamos saber como produzir e como utilizar” afirmou Antero.
Ele ressaltou que, embora o hidrogênio verde ainda esteja em fase de desenvolvimento, a adoção é “inevitável para a construção de uma economia sustentável”.
O hidrogênio verde é considerado uma das fontes de energia mais promissoras para o futuro, devido à sua capacidade de ser produzido de forma limpa, sem a emissão de gases poluentes.
Diferente do hidrogênio convencional, que é obtido a partir de combustíveis fósseis como gás natural ou petróleo, o hidrogênio verde é produzido através de um processo chamado eletrólise, que separa o hidrogênio do oxigênio na água utilizando energia renovável.
Essa tecnologia, embora ainda tenha um custo elevado, é vista como uma chave para a descarbonização de indústrias intensivas em carbono, como a produção de cimento.
Planta-piloto é incentivo a novos investimentos
A planta-piloto de hidrogênio verde também terá um papel importante nos estudos de mercado e regulamentação do vetor energético no Brasil. Atualmente, o país está em fase inicial de desenvolvimento dessa tecnologia, e projetos como este são essenciais para estabelecer um marco regulatório e incentivar novos investimentos.
Além disso, a aplicação do hidrogênio verde no processo de produção de cimento pode servir como modelo para outras indústrias, que buscam reduzir suas pegadas de carbono e atender às demandas globais por práticas mais sustentáveis.
Silvio Torquato, secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec-RN), enalteceu a parceria como uma oportunidade única para o Rio Grande do Norte se destacar no cenário nacional e internacional como um polo de inovação em energias renováveis. “Isso vai dar uma condição ao Rio Grande do Norte de partir na frente na produção de cimento verde. Por exemplo, um prédio construído com cimento verde vai ter um valor diferenciado, isso é uma tendência mundial” ressaltou.
Ele acrescentou que o estado já é reconhecido por seu potencial em energia eólica e solar, e agora, com o hidrogênio verde, poderá atrair ainda mais investimentos e gerar novos empregos.
Roberto Serquiz, presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiern), também destacou a importância do projeto para a indústria local. Ele enfatizou que a federação está comprometida em promover a sustentabilidade e a inovação.
“É um exemplo importante, um passo inicial que a gente enxerga como algo muito positivo. O Rio Grande do Norte tem um potencial que todo mundo conhece, tanto na energia onshore quanto nas perspectivas do offshore. Nesse sentido, a Federação das Indústrias está preparada para apoiar tecnicamente todas essas parcerias, todas essas empresas que aportarem aqui” disse Serquiz.
A planta de hidrogênio verde – desenvolvida pela CPFL e financiado pelo Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – deverá ser monitorada por um período de seis meses após o início da operação, previsto para 2027, para avaliar o impacto na redução das emissões de CO².
Estima-se que a produção de hidrogênio verde na planta da Mizu Cimentos possa reduzir as emissões em até 12,5 toneladas de CO² por ano, estabelecendo um novo padrão para a indústria de cimento no Brasil e contribuindo para as metas globais de combate às mudanças climáticas.