Eles, os gladiadores – Tribuna do Norte

Eles, os gladiadores – Tribuna do Norte
Publicado em 13/09/2024 às 0:19

Vicente Serejo
[email protected]

Nunca cairia tão bem, e tão confortavelmente como agora, essa pergunta fundamental à compreensão de um papel na condução de uma sociedade livre e plural: de que é feito um líder? Certamente não é da força, se esta, no máximo, faz o chefe e o ditador. Há de ser, com toda a certeza, a valiosa qualidade de agregar pela calor da confiança individual e coletiva. Ninguém, a não ser os oportunistas, ou por falta de racionalidade, se deixa liderar por enlouquecidos de poder.

O mundo vive uma crise profunda com a falta de grandes estadistas, visto o plano mais elevado e, por extensão, de líderes. Dos maiores, mais fortes e mais ricos ajuntamentos humanos às menores cidades, vilas e povoados. A política caiu no charco das ambições e levou suas águas turvas a toda parte. Das maiores democracias do mundo, como os Estados Unidos, ao chão das menores cidades, todos são chefes. E sem o compromisso com a grandeza de conduzir um povo.

Muito do surto de deformação, nascido das hipertrofias, se deve à força do marketing. Não que sua técnica, em si mesma, deva ser responsabiliza pelo empobrecimento. Talvez pela magia que se fez mais fascinante e persuasiva. A tal ponto, convenhamos, que não temos mais a classe média como produtora do que sempre tivemos de melhor e mais sólido na formação de líderes, com destaque para o bacharelismo fundador do humanismo na vida política brasileira.

O golpe militar, muito mais do que prender e arrebentar, para usar a expressão tosca do general-presidente Costa e Silva, garroteou o berço que foi sempre a política estudantil. O modelo profissionalizou técnicos e especialistas, mas assassinou de forma devastadora, até hoje, a melhor escola política. Basta olhar a baixa qualidade dos parlamentos, das câmaras municipais ao Congresso Nacional, no seu escambo feito de um toma-lá-dá-cá que assombra de tanta vileza.

E se uma sociedade não tem um bom legislativo, por consequência inevitável nunca terá um Executivo e um Judiciário a altura dos seus direitos e até dos seus sonhos. O Legislativo hoje não é mais o garantidor da democracia e, nos seus conflitos com os outros poderes, acabou por jogar de lado a tarefa de bem defender o estado democrático de direito. A política perdeu a sua melhor bússola – o espírito público, única forma de fazer o bem por dever e não por demagogia.

O que nos restou foi o jogo do levar vantagem em tudo. Os plenários hoje são verdadeiras arenas, de leões e gladiadores, como em Roma dos Césares. Contam os historiadores que nos combates de vida ou morte, os gladiadores tentavam atingir, com suas espadas, o plexo dos seus adversários. Por isso, a depender da sua destreza, o vitorioso acertava o diafragma do contendor e este morria não com um sorriso pela coragem de lutar, mas com um esgar frio e moribundo…

PALCO

SEQUELA – Para as melhores fontes que andam nos corredores da Assembleia não são mais tão saudáveis assim as relações dos deputados tucanos Ezequiel Ferreira e Gustavo Carvalho.

ALIÁS – Carvalho já estaria autorizado, a partir de Brasília, a deixar o tucanato depois de ser derrotado, pelo próprio PSDB, ao aliar-se à governadora Fátima Bezerra na eleição do TCE.

GESTO – O arcebispo Dom João Santos Cardoso vai retomar a luta, no melhor sentido, para a beatificação e canonização do Padre João Maria, o santo dos natalenses. Mais do que merecido.

FORÇA – Ainda não arrefeceu na governadora Fátima Bezerra o ânimo de usar o prestígio de sua força para levar Natália Bonavides ao segundo turno. Resta saber se há força. E suficiente.

ROGO – De um leitor, via e-mail: “Tomara que os coronéis que decidem a opinião de Paulinho Freire não exijam dele defender uma cassação da padroeira, Nossa Senhora da Apresentação”.

TIRO – Do vice Geraldo Alckmin, sobre o furor de Elon Musk que deseja legislar para todo o mundo: “Não é porque Elon Musk é bilionário que não precisa cumprir a legislação brasileira”.

POESIA – Do grande e esquecido Alphonsus de Guimarães, num dos mais belos lamentos do simbolismo: “Hão de chorar por ela os cinamomos / Murchando as flores ao tombar do dia.”

MÉTODO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama a Absalão, o intrépido, ensinando a viver: “Não precisa agredir os desafetos. Basta cercá-los de silêncio. Eles sabem as razões”.

CAMARIM

AGENDA – Na revista ‘Pernambuco’, o diplomata João Almino lembra a infância vivida em Mossoró e a edição também homenageia Paulo Leminski. No jornal ‘Rascunho’, entrevista com Anna Carson. Circula o número 47 de ‘Serrote’, a revista de ensaios do Instituto Moreira Sales.

ELOGIO – Bela a sacada e perfeito o título do livro de Ronny Diógenes Menezes, professor do Centro Superior de Ensino do Seridó: ‘Artes Surdas’. Um estudo sobre as mãos do surdo como instrumentos de trabalho. Disponível em ebook, na Amazon, mas deve sair na versão impressa.

PRESENÇA – Amanhã, em Natal, o escritor José Correia Filho, Prêmio Jabuti 2012. Aceitou o convite de Abimael Silva e lança neste sábado, lá no Sebo Vermelho, seu livro ‘Nisinha’, uma história para leitores infantis. Correia Filho é o criador e dono da editora ‘Miraveja’, São Paulo.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.