Expectativa – Tribuna do Norte

Expectativa – Tribuna do Norte
Publicado em 13/09/2024 às 4:31

Dácio Galvão
Mestre em Literatura Comparada, doutor em Literatura e Memória Cultural/UFRN e diretor da Fundação Cultural Helio Galvão

Há poucos dias uma postagem de Cid Campos me deixou inquieto. A fotografia do pai Augusto de Campos -lançou recentemente com Antonin Rossel, o Livro-CD “Ar de Provença” de canções provençais- recebendo a visita do multiartista Arnaldo Antunes. Conversas sobre música e poesia visual. Quantas boas energias emanaram. O que pode resultar de trocas de ideias entre três imensos artistas! Admiração total. A poesia escrita, sonora e visual de Arnaldo Antunes é tributária do movimento moderno e concretista.

O poeta-cantor participou da Banda Performática, liderada por José Roberto Aguilar e já marcava forma singular de participação coletiva. Performances e happenings. A formação -Paulo Miklos incluso- resultaria em álbum. De arrojado encarte. Textos e créditos sinuosos impressos em cores sobre lâminas pretas. Na sequência a banda Titãs. Antunes imprimiu seu coreografar e modo de compor poemúsicas. Vide “ Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”. Os álbuns solos “Nome”, “Silêncio”… determinando individualidade criativa: “-tinha um desejo de mostrar coisas que não caberiam naquele consenso de oito pessoas”.

Os Tribalistas… Os livros “Ou e” e o “Agora aqui ninguém precisa de si” -Prêmio Jabuti- descarrilhou para uma bibliografia ultrapassando mais de vinte projetos editoriais. Onde pegadas de Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, ideograma chinês, associação analógica, caligrafias sensitivas… são detectáveis.

Alguém da cena literária falou: “O Arnaldo é meio cubista, cheio de pontas”! Nas poesias, crônicas, exposições e falas. Visitamos sua retrospectiva no Espaço Cultural dos Correios do Rio de Janeiro -2016-. Montada numa geral envolvendo fotografias, colagens, instalações, adesivos, vídeos, ready-made linguísticos, logos, monogramas, caixas acrílicas… suportes para produção dos últimos trinta anos. Black lights pipocando íris, retinas. Luminosidade e feixes multicores. Semânticas diferenciadas. O curador da mostra, Daniel Rangel, incluiu a peça “Porta Branca”.

De cômodo nenhum. Aberta para o infinito. Saímos sobrecarregados de metalinguagens. Se o contributo de AA não acresce ao filtro histórico produzido no século passado elabora nexo ao fazer a ruptura de gêneros literários. Da experimentação de sintaxes no século atual. Textualidades abertas no Brasil por Oswald de Andrade, Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa…

Em Arnaldo Antunes, a arte é multifária. Vagueia em dimensões cuja centralidade é a quebra do estabelecido. Em suas andanças participando de Festivais Literários -FLIP-RJ, FLIPIPA-RN- discute ideias e despeja bagagem teórica. Ampliando embates pós-modernos. Assumindo riscos por incidentes linguísticos-visuais. Manipulando o artesanal o tecnológico-virtual. Armando ciladas poéticas. Nada estático. Daí o título da mostra: Palavras em Movimento! Ao visualizar o encontro entre Augusto, Arnaldo e Cid… se projeta algo. São atores da cena multiartística aqui e alhures. Aguardemos.

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