Peças históricas da Revolução Acreana são furtadas de prédio abandonado desde de 2019 em Xapuri

Peças históricas da Revolução Acreana são furtadas de prédio abandonado desde de 2019 em Xapuri
Publicado em 19/09/2024 às 16:28

O acervo do Museu do Xapury possuía peças do cotidiano de pessoas que viveram no auge do ciclo da borracha e outras com temas relativos à luta dos trabalhadores rurais e ao povoamento da cidade, desde a Revolução Acreana, passando pelo 2º ciclo da borracha até a morte do líder seringueiro Chico Mendes

O acervo do Museu do Xapury possuía peças do cotidiano de pessoas que viveram no auge do ciclo da borracha e outras com temas relativos à luta dos trabalhadores rurais e ao povoamento da cidade, desde a Revolução Acreana. Foto: arquivo 

Com Leônidas Badaró 

Objetos de valor histórico da Revolução Acreana, um dos mais importantes capítulos da história do Acre, foram furtados após o prédio onde deveria funcionar o Museu do Xapury ser arrombado.

Conforme um boletim de ocorrência registrado na Delegacia de Polícia de  Xapuri, foram furtadas armas usadas durante a Revolução Acreana e uma espada de Plácido de Castro. O furto é mais um capítulo do completo abandono do local, que deveria ser um ponto de visitação turística do município.

O prédio está fechado desde o ano de 2019. O acervo do Museu do Xapury possui peças do cotidiano de pessoas que viveram no auge do ciclo da borracha e outras com temas relativos à luta dos trabalhadores rurais e ao povoamento da cidade, desde a Revolução Acreana, passando pelo 2º ciclo da borracha até a morte do líder seringueiro Chico Mendes, cuja estátua de bronze era uma das atrações mais procuradas pelos turistas e visitantes do lugar, quando aberto.

O antigo e histórico prédio está a caminho de chegar ao centenário. Segundo registros, sua construção foi iniciada em 1926, durante o governo José da Cunha Vasconcelos, e inaugurado em 7 de setembro de 1929. foto: Arquivo

Representantes da prefeitura de Xapuri relataram que houve, sem sucesso, tentativa de uma parceria com a FEM, para que as peças fossem expostas no museu da Casa Branca, recém-inaugurado pelo município.

Sem nenhuma segurança no prédio, que está deteriorado e com outras peças de importante valor histórico que ainda se encontram no local, a reportagem entrou em contato com a FEM para saber quais providências estão sendo adotadas. Ítalo Fagundes, diretor de Patrimônio Histórico da Fundação, se pronunciou, sem, no entanto, informar quais providências vão ser adotadas e se o material que ainda resta no Museu vai ser retirado para outro lugar em segurança “A gente tomou ciência do furto, não temos ainda o controle de quais peças sumiram, fizemos um boletim de ocorrência que está sendo investigado pela Delegacia de Xapuri  e estamos tomando todas as medidas administrativas cabíveis”, informou.

Sustentado por uma peça antiga, que deveria estar do lado de dentro do prédio, o aviso de “FECHADO PARA MANUTENÇÃO” está ali há bastante tempo. Foto: arquivo

Há cerca de 20 anos, o patrimônio foi alvo de uma disputa entre governo e prefeitura durante as gestões do governador Jorge Viana e do prefeito Wanderley Viana, quando o prédio foi completamente restaurado após ser cedido à administração estadual, que lá implantou o Museu do Xapury, inaugurado em 3 de agosto de 2004, hoje fechado, totalmente esquecido e necessitando de revitalização.

O antigo e histórico prédio está a caminho de chegar ao centenário. Segundo registros, sua construção foi iniciada em 1926, durante o governo José da Cunha Vasconcelos, e inaugurado em 7 de setembro de 1929, durante a administração municipal de Luiz Gonzaga Alexandre de Freitas, na gestão estadual de Hugo Carneiro.

Em outro roubo, réplicas de espingarda foram furtadas no começo de agosto do Memorial do Seringueiro em Xapuri onde funciona o CAT no centro do município

Réplicas de armas foram furtadas em Xapuri no caneco do mês de agosto. Foto: Reprodução/Secretaria Municipal de Turismo

O Memorial do Seringueiro, espaço turístico de Xapuri, que reconta a história dos Ciclos da Borracha e de seringueiros, foi invadido por criminosos e duas réplicas de espingarda foram furtadas no começo de agosto. As peças fazem parte do acervo e não possuem mecanismos que as façam funcionar. No local também funciona o Centro de Atendimento ao Turista (CAT).

A Secretaria de Turismo do município informou que, possivelmente, os criminosos entraram no local por uma janela que está danificada. Porém, não havia sinais de arrombamento e nem destruição. A invasão ocorreu entre em um domingo para segunda-feira (5).

A diretora de Turismo de Xapuri, Ronaira Barros, na época explicou que o memorial tem um estrutura frágil por conta das enchentes do Rio Acre na cidade. Foi registrado um boletim de ocorrência e a Polícia Civil investiga o caso.

Memorial do Seringueiro tem acervo da época do Ciclo da Borracha — Foto: Acervo/Secretaria de Turismo de Xapuri

Ainda segundo Ronaira, os servidores que trabalham no memorial perceberam que as peças tinham sido levadas imadiatamente acionaram a polícia. “Estávamos no momento da limpeza, tirar o pó das armas e deram fé que tinham sumido duas réplicas de espingarda. Tivemos informações que outras residências foram alvos de delitos como esse no mesmo dia. Aproveitaram que estavam por perto”, disse.

Apesar de não funcionarem, a diretora alerta para a possibilidade de criminosos assaltarem os moradores com as armas. “Talvez já tenham visitado e viram as armas. São réplicas idênticas e, talvez, não saibam que são apenas esculturas de madeira. Nosso medo é de que possam ser utilizadas em assaltos, a pessoa abordada não vai perceber que é uma réplica”, disse.

Memorial do Seringueiro na Princesinha do Acre

O espaço foi reaberto em novembro do ano passado, juntamente com o Centro de Atendimento ao Turista (CAT). No local, o visitante tem um contato maior com a história do ciclo da borracha e os utensílios que os seringueiros usam até hoje para a extração do látex.

O acervo conta com uma fornalha, pélas de borracha, fogão à lenha, a escultura de um seringueiro com a poronga (tipo de luminária utilizada para se locomover pela mata na escuridão) em tamanho real, lamparinas e outros acessórios utilizados pelos trabalhadores.

Museu de Xapuri

Muitos dos fatos importantes que caracterizam a formação da identidade xapuriense foi se perdendo, ao longo dos anos, desaparecendo da memória coletiva das populações tradicionais. foto: arquivo 

Xapuri, fundada no final do século XIX, passou por diversos acontecimentos marcantes durante todo o seu processo de vida cultural e social. Acontecimentos esses que tiveram grande repercussão e que fizeram a Princesinha ser reconhecida nacional e internacionalmente.

Mas, apesar da cidade guerreira ter tido esses acontecimentos marcantes que deixaram marcas profundas, não quer dizer que sua história de lutas e conquistas seja inesquecível.

Muitos dos fatos importantes que caracterizam a formação da identidade xapuriense foi se perdendo, ao longo dos anos, desaparecendo da memória coletiva das populações tradicionais.
Tudo de belo, maravilhoso, triste, foi se tornando simples relíquia, objetos de recordação e decoração das famílias xapurienses.

E foi da preocupação com essa degradação dos bens materiais, e total esquecimento dos fatos que marcam o surgimento da nossa sociedade que no dia 03 de agosto de 2005 surgiu o Museu do Xapury.

Xapuri, fundada no final do século XIX, passou por diversos acontecimentos marcantes durante todo o seu processo de vida cultural e socialFoto Gleilson Miranda/Xapuri

O prédio da Prefeitura Municipal de Xapuri, construído em agosto de 1927, foi escolhido para tal finalidade, destinado a abrigar os diversos objetos e painéis histórico-informativos que retratam a história do povo de Xapuri, desde seu povoamento, passando por sua Belle Èpoque – período de profunda riqueza proveniente de seu ouro: borracha e castanha, que lhe garantiu o título de Princesinha do Acre – retratando o período da Revolução Acreana, a luta do seringueiro, ambientalista e líder sindical Chico Mendes.

O acervo é uma verdadeira ode à história e à cultura da cidade. Composto por painéis que narram a formação do povoamento local, mostruários de borracha e castanha, e armas do período da Revolução Acreana, ele preserva a memória da Belle Époque da “Princesinha do Acre”. A diversidade de objetos, que inclui móveis e lustres, ilustra a exploração enfrentada pelos trabalhadores da floresta.

A escultura de Chico Mendes, juntamente com fotografias que retratam sua trajetória como líder sindical e ambientalista, destaca a importância de sua luta. Infelizmente, muitos desses elementos estão esquecidos e até furtados, refletindo o desprezo pela rica história dessa região e a necessidade urgente de resgatar e valorizar a memória de um povo que merece respeito e reconhecimento por sua resistência e legado.

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