ARTIGO: A Cadeirada. Por Marcus Aragão
A cadeirada de Datena, apesar de lastimável, foi um dos poucos momentos espontâneos e verdadeiros dos debates. Não existe nada mais fake do que o comportamento, as falas e as poses artificiais dos candidatos. Lembremos do esforço de Boulos para parecer pacato e cordial. Para seguir a cartilha do “Lulinha paz e amor”, é fundamental esconder sua agressividade, já comprovada diversas vezes em discursos para a militância e na postura combativa nas invasões de propriedade privada.
Por outro lado, o novo Marçal, arrependido e brando logo após a cadeirada ter interrompido seu crescimento nas pesquisas, é tão fake quanto seu antigo personagem, que utilizava uma retórica inflamada, caricata e sem freios. As falas decoradas de Ricardo Nunes fazem-no parecer um frágil boneco de ventríloquo. Datena, tentando ajustar seu discurso de apresentador ao de candidato, é outra cadeirada no bom senso.
— Boulos e Marçal: o pior do Brasil.
A postura artificial, comprovada também por algumas trocas de mensagens entre os candidatos, estava infantilizando os debates. Os candidatos despertavam mais nossos instintos do que nosso raciocínio. Eis que estávamos todos de volta à 5ª série, assistindo aos debates.
Apelidos, zombarias, ofensas infantis e até brigas foram utilizados para ganhar risos e se destacar no grupo. Quando os candidatos recorrem a esses artifícios, acabam banalizando o processo democrático, transformando-o numa espécie de espetáculo teatral, em vez de uma plataforma para discutir seriamente os problemas da cidade.
— Bananinha… Comedor de açúcar… Chatábata… Zé Ruela… Bunda mole.
Quando um candidato adota uma postura combativa e uma retórica agressiva, isso pode criar a falsa impressão de que ele é mais competente ou mais preparado, quando, na realidade, está apenas desviando a atenção dos verdadeiros temas que importam. Infelizmente, isso dá algum resultado na fase inicial da campanha, mas depois não se sustenta. Algo que Marçal demorou a perceber.
— É como se o povo se desse por satisfeito apenas por se sentir vingado pelas ofensas ao político em rede nacional e também grato pelo entretenimento.
O problema é que as ofensas e o teatro só resolvem nosso tédio, e não os problemas da cidade, do estado ou do país. Não conseguimos imaginar um político como Tarcísio de Freitas com essa performance.
Devemos escolher melhor nossos representantes, ou passaremos a vida inteira levando cadeiradas muito piores, seja na segurança, na saúde, na economia ou na educação.
— Pega o código.
Marcus Aragão