Dados da Organização Mundial de Gastroenterologia apontam que cerca de 20% da população mundial sofrem com algum tipo de problema intestinal. Entretanto, as intercorrências que podem parecer mínimas, também podem afetar outras áreas de vida como a saúde da pele. Isso é o que afirma Marcella Garcez, médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), que propõe a importância de um cuidado por completo entre a microbiota intestinal e a cutânea.

De acordo com a especialista, a microbiota que comumente é apontada somente na gastroenterologia, na verdade ela está presente em diversas partes do corpo que possuem contato com o ambiente externo. “A pele tem uma microbiota, a boca tem, o canal vaginal tem uma microbiota específica, tem microbiota no aparelho respiratório, e todas elas estão em equilíbrio e se conversam. Então quando nós prescrevemos probióticos com sinais de desequilíbrio, nós melhoramos a microbiota como um todo”, afirma Marcella Garcez.

Com o tema “Equilíbrio da microbiota e saúde cutânea”, a nutróloga foi a primeira palestrante a subir aos palcos da 28ª edição do Congresso Nacional de Nutrologia, evento ocorrido em São Paulo que reuniu especialistas de todo o país com mais de 480 pesquisas científicas apresentadas. O evento iniciou na última sexta-feira (26) e encerrou neste sábado (28).

Segundo a ABRAN, a nutrologia é a especialidade médica que abrange todos os aspectos da nutrição, desde os normais até os patológicos e terapêuticos, sendo responsável por diagnosticar, prevenir e tratar doenças relacionadas à nutrição. Entre as áreas que a nutrologia atua, é possivel o profissional se especializar em: saúde da mulher, esportiva, hospitalar e saúde pública.

Dentro desse aspecto, Marcella Garcez defende que o bom funcionamento do intestino está diretamente associado a diversos eixos da saúde, como o cérebro, coração e tecido ósseo. Para isso, é importante que é importante que as diversas especialidades médicas consigam atuar em multidisciplinaridade em conjunto com o nutrólogo, em prol de um resultado completo do paciente.

“Temos que ter o intestino em equilíbrio. O tratamento de todas as doenças deveriam começar pelo intestino, porque o intestino em desequilíbrio ele vai impactar o resto do organismo como um todo”, afirma.

Diretamente sobre a saúde cutânea, a nutróloga acredita que a microbiota intestinal em harmonia melhora as respostas inflamatórias da pele, melhora o quadro de equilíbrio e também proporciona mais resistência, além de prevenir o envelhecimento precoce ou acelerado. “Hoje a gente sabe e está muito bem documentado na literatura tudo que o intestino impacta na nossa saúde”, considera.

A partir de uma eventual necessidade ao constatar a desregulação da microbiota e na busca da melhora da pele, a principal intervenção aconselhada pela nutróloga Marcella Garcez é a mudança dos hábitos alimentares, buscando alimentos o mais naturais possíveis. “Isso passa também pelo controle do estresse, pelos bons hábitos de sono e pela orientação do estilo de vida”, explica.

Já diante de um caso do paciente que se alimenta frequentemente com alimentos orgânicos e que não tem toxinas, muitas vezes é constatado uma infestação por patógenos que impacta diretamente no organismo. Nesse tratamento, os médicos nutrólogos atuam diretamente na prescrição de probióticos para tratamento da microbiota.

“Falando de uma estratégia de prescrição de medicamento, às vezes a gente tem que tratar essa microbiota porque existem protozoários parasitas no intestino e temos que tratar isso, mas a decisão sempre será de forma individualizada. Como médicos nutrólogos, também podemos identificar uma carência de nutrientes”, afirma. O grupo de pessoas que costumam apresentar baixos nutrientes são os “bariatricados”, necessitando um acompanhamento direto entre três a cinco anos após a realização da cirurgia bariátrica.