Advogado é acusado de matar a namorada ao jogá-la do 8º andar de prédio

Advogado é acusado de matar a namorada ao jogá-la do 8º andar de prédio
Publicado em 16/11/2024 às 0:34
Dois anos após a advogada Carolina da Cunha Pereira França Magalhães morrer ao cair do oitavo andar de um apartamento no bairro São Bento, na região centro-sul de Belo Horizonte, o caso teve uma reviravolta. A investigação da Polícia Civil concluiu que a mulher foi assassinada. Inicialmente, o caso era tratado como suicídio.

Com base no inquérito concluído em agosto deste ano, o MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) denunciou o então namorado de Carolina como autor do crime. Em setembro, a Justiça recebeu a denúncia e Raul Rodrigues Costa Lages, que também é advogado, se tornou réu no caso. Ele responde o processo em liberdade e nega as acusações.

Carolina da Cunha Pereira França Magalhães, então com 40 anos, estava sozinha com Lages no apartamento na noite em que morreu. Os dois filhos dela, frutos de outro relacionamento, haviam saído para assistir a uma partida de futebol.

Pouco depois das 23h, um vizinho ouviu um estrondo e a avistou caída na área de lazer do condomínio. O porteiro e o resgate foram acionados, mas a mulher já estava sem vida.

Em depoimento, Lages, alegou que não presenciou a queda. O homem afirmou que havia discutido com a companheira momentos antes, mas deixou o apartamento em seguida. Segundo ele, enquanto estava no elevador, ouviu um estrondo e, ao chegar na portaria, foi informado sobre o ocorrido.

Na época, o boletim de ocorrência registrado pela PM (Polícia Militar) não indicou suspeita de crime e levou a hipótese de suicídio. Lages havia relatado um histórico de saúde mental de Carolina.

Dois anos depois, o inquérito da Polícia Civil, com mais de 1.600 páginas, refutou a tese. Um dos elementos que contribuíram para a avaliação da delegada responsável pelo caso foi o horário da dinâmica dos fatos. O inquérito afirma que o acusado não soube explicar o que fez no intervalo entre a queda e a saída do apartamento.

Com base nos depoimentos, os peritos concluíram que Carolina caiu antes das 23h11, horário em que o porteiro foi acionado. Lages acionou o botão do elevador no 8º às 23h14. Às 23h15 ele já descendo rumo à portaria, onde chega em menos de um minuto. Às 23h16 ele é abordado pelo porteiro, que o leva até a área da piscina, onde Carolina estava caída.

“Durante esse tempo, [o acusado] permanece segurando as duas sacolas de roupas. As sacolas deveriam conter objetos de crucial importância para Raul, que mantém as mesmas consigo mesmo diante da visão trágica e desesperadora de sua mulher desfigurada e ensanguentada ao solo”, aponta trecho do inquérito da Polícia Civil. Em seguida, as sacolas foram deixadas dentro do carro dele.

Dinâmica da morte

Os investigadores acreditam que durante uma briga, Raul tenha empurrado Carolina, que caiu desacordada. Peritos encontraram sinais de sangue no marco de uma das portas do apartamento.

“Como advogado, [Lages] sabe que tal agressão foi longe demais. Limpa então o que consegue, tenta organizar o local, coloca roupas de cama para lavagem na máquina de lavar roupas, recolhe seus pertences em duas sacolas, corta a tela da janela da varanda, joga a tela fora na lixeira da cozinha, guarda a tesoura utilizada na gaveta da cozinha. Carrega Carolina deitada em seu colo, passa o corpo lateralizado pelo buraco feito, agarrando-se um fio do cabelo da vitima na parte inferior esquerda da tela da varanda; e sai do apartamento em direção ao elevador”, narra o relatório final.

“Também é importante mencionar que alelos de DNA de característica masculina foram encontrados na tesoura de 16 cm que convergiu com a usada para o corte da tela da janela por onde vitima ultrapassou”, destaca outro trecho da peça.

Relacionamento conturbado

O relacionamento do casal tinha pouco mais de um ano. Segundo testemunhas, era uma relação conturbada, marcada por idas e vindas. Os relatos colhidos pela Polícia Civil apontam que Lages já havia até “demandando que a mesma deletasse contatos, evitasse redes sociais, eventos sem sua presença”. “Até mesmo para Carolina fazer as unhas no salão, havia fiscalização por parte de [Lages]. Nenhum familiar ou amigo próximo de Carolina testemunhou a favor do relacionamento do casal”, completa.

Denúncia

Diante o resultado da investigação, o MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) acusou Raul Rodrigues Costa Lages por homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, recurso que impediu a defesa da vítima e feminicídio.

“O crime foi cometido por motivo torpe, tendo em vista o sentimento de posse demonstrado pelo denunciado em relação à vítima, visto o inconformismo com a possibilidade de fim do relacionamento. O crime foi praticado mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, pois ela foi atacada pelo denunciado e estando desacordada, foi arremessada da varanda de seu apartamento, sem qualquer possibilidade de reação. O crime foi cometido contra a mulher, por razões da condição de sexo feminino, em cenário de violência doméstica e familiar, permeada por violência física e psicológica à vítima, as quais foram materializadas pela ação delitiva levada a cabo pelo denunciado”, defendeu o promotor Fábio Mendes Cardoso.
O juiz Bruno Sena Carmona, do Tribunal do Júri, recebeu a denúncia e afirmou que “do contexto investigatório que serviu de base à peça acusatória, verifica-se justa causa para a propositura desta ação penal”.

A reportagem procurou a defesa de Lages e aguarda posicionamento sobre o caso. Na defesa inicial apresentada nos autos do processo, os advogados do réu mantiveram a tese de autoextermínio da vítima e pediram a realização de uma “autópsia psicológica”. “No presente caso, está amplamente provado que Carolina apresentava histórico de graves fragilidades emocionais e distúrbios de natureza psiquiátricas, o que foi corroborado por várias pessoas (parentes, amigos, empregados), todas de seu convívio próximo, bem como pelas provas materiais”, declararam. O MP se manifestou favorável ao pedido.

A defesa de Lages também questionou a validade da investigação ao acusar a família de Carolina por entrar no apartamento após a morte e, supostamente, alterar que deveria ser isolada. O MP discordou da informação.
 
Fonte: R7.