Estrela gloriosa – Tribuna do Norte

Rubens Lemos Filho
Os românticos amaram o título brasileiro do Botafogo. Há uma nesga da comovente resistência gloriosa dentro de cada um de nós. O Botafogo mereceu tanto a Libertadores quanto o Brasileirão.
Só o Botafogo temperou gargalhadas e lágrimas ritmistas no apogeu dos dois títulos. É do Botafogo o ídolo mais popular do Brasil -Mané Garrincha e a figura dele ilustra o perfil do torcedor: o botafoguense, antes de tudo, é um bonachão.
Divorciado da mediocridade do Vasco, vesti minha alma do mais alinhado smoking alvinegro e torci para valer. O Botafogo beirou à completude com seu time sinfônico.
É preciso recuar no tempo para entender a extensão do ápice da Estrela Solitária depois de tantos sofrimentos. De derrotas esportivas e morais que soavam injustas ao clube mais simpático do Rio de Janeiro, palavra de vascaíno.
Dois timaços marcaram a vida do Botafogo. O que se fez base da conquista da Copa de 1958 com três titulares estratégicos: Nilton Santos, o melhor lateral-esquerdo do mundo em todos os tempos, um boa-praça típico daqueles que integram a torcida.
Nilton Santos e o magistral Didi foram os responsáveis pela escalação de Mané Garrincha, louco para uns, gênio de verdade, o homem que revolucionou o drible como forma de superação de um indivíduo pelo outro sem violência e Zagallo, o primeiro falso ponta do futebol brasileiro, que permitia, recuando ao meio-campo, a presença livre de Pelé no ataque ou o revezamento com Nilton Santos no apoio.
Didi é um capítulo à parte. Entrevistado há mais de dez anos, o cronista e escritor Carlos Heytor Cony foi perguntado sobre quem chamaria se estivesse pego de surpresa e vivendo o maior perigo de sua vida. Ele nem titubeou: Didi.
Didi foi o Mister Futebol, o melhor jogador do mundial de 1958 e sempre conservou uma frieza misturada com o charme irresistível de um homem capaz de definir, sozinho, uma partida com uma batida macia na bola endereçada ao canto do goleiro vencido: a folha-seca.
Caprichoso, Didi desequilibrou a semifinal contra a França ao enfiar uma bola por entre as pernas do meia Kopa, o Didi deles. Kopa desmoralizado, o Brasil aplicou uma sova de 5×2 e uma aula de futebol que narrarei nas próximas edições da coluna pois revi mais de 10 vezes o vídeo do jogo, que graças a Deus, tenho.
Com Nilton Santos, Didi, Garrincha, Amarildo, herói da Copa de 1962 e Zagallo, o Botafogo foi o único time a encarar o santos de Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe, perdendo mais jogos, mas também aplicando as suas goleadas. Campeão carioca de 1962 numa surra de 3×0 no Flamengo, o Botafogo deu origem à outra safra de competentes boleiros.
Para o lugar de Didi, veio Gerson, o Canhotinha de Ouro. Para o de Zagallo, o sofisticado e malandro Paulo Cézar Caju, para o de Amarildo, chegou Roberto Miranda e Garrincha, mutilado pelas pancadas e infiltrações de medicamento de joelho e dominado pelo álcool, cedeu seu canto direito a Jairzinho, o futuro Furacão da Copa.
O primeiro título Brasileiro, em 1968, veio numa decisão em duas partidas contra o Fortaleza, um passeio de 4×0 no Maracanã lotado e chuvoso. No mesmo ano conquistou o bicampeonato carioca enfiando idênticos 4×0 no Vasco de Brito, Fontana, Danilo Menezes e Bianchini.
Depois da venda de Gerson, o Botafogo desabou. Não encontrou seu termômetro de armador e passou, inicialmente, a perder títulos nas decisões até passar à ralé do futebol carioca formando farandolas que apanhavam de qualquer São Cristóvão, Olaria ou Bonsucesso.
A geração de Marinho Chagas, o anarquista, Fisher, o artilheiro cabeludo e Dirceu perdeu Brasileiros e Libertadores por puro desinteresse ou corpo mole. Foram 21 anos sem título até que Maurício marcou o gol do campeonato carioca de 1989.
Está havendo uma doce reconstrução do Botafogo vitorioso e insinuante. Há quatro craques no Campeão da Libertadores e do Campeonato Brasileiro: Luiz Henrique, o argentino Almada, múltiplo no meio, Marlon Freitas(por que não é titular da seleção?) e o zagueiro Gerome. Homens que fazem lacrimejar enamorados apaixonados de agora.
Cansaço O principal adversário do Botafogo no jogo de hoje contra o Pachuca(México) pelo Mundial de Clubes é o próprio cansaço. A sequência de jogos recentes não foi mole, mas o atacante Luiz Henrique fiz que mais um título é questão de honra.
Homenagem A Federação de Futsal do Rio Grande do Norte, pelo seu presidente Djavan prestou uma justa homenagem pois feita em vida, ao maior símbolo do esporte no Estado, o eterno Artur Ferreira, guerreiro do América.
Torneio A Copa Artur Ferreira encerrou a temporada de futsal e o América soube agradar o ídolo ao conquistar a Copa Artur Ferreira derrotando na final a Seleção de Macaíba por 4×3, com Neto Lira conferindo três vezes e o interminável Betinho marcando o quarto. Quer ser gentil, seja em vida.
Fluminense Escapou e, pela maneira heroica, fala em reformulação e títulos.
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