Um gol de Pelé – Tribuna do Norte

Um gol de Pelé – Tribuna do Norte
Publicado em 27/07/2024 às 23:11

Rubens Lemos Filho

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A narração do locutor Hélio Câmara é literal e copia dos textos de Nelson Rodrigues: “prepara-se (o lateral-esquerdo Mingo), solta para Wanderley, ele amortece e devolve, Mingo cruzou, bateu Zé Ivaldo é golaço, é gol de Pelé, gol de Maradona, gol de Hagi, é para atravessar os séculos além do tempo.”

O falecido Hélio Câmara era americano confesso, mas o gol de Zé Ivaldo contra o Náutico na épica jornada da Série B de 1996 ultrapassou as fronteiras do extraordinário. Hélio Câmara, uma grande saudade, se ajoelhou, gritou, chorou extravasando um sentimento que era de todo o Rio Grande do Norte, até do radical abecedista. Os pernambucanos tripudiaram antes do jogo.

Zé Ivaldo imortalizou-se. O goleiro Jéferson era o melhor jogador em campo naquela tarde e noite de 24 de novembro de 1996 no segundo jogo americano pela fase final da segundona. Mente que disser que sabia do acesso do América.

O clube estava com pouco dinheiro e montou um time para não cair, se bem que a sorte caminhou de mãos dadas com os jogadores, pois o América conquistou o campeonato potiguar ganhando duas vezes do ABC, um time rigorosamente igual. O ABC ganhou o primeiro turno e jogava pela vitória para conseguir o segundo.

A lógica foi jogada à linha de fundo. O ABC vencia por 2×1, o trio elétrico iniciava o aquecimento para a comemoração quando o goleiro Márcio soltou uma bola ridícula nos pés do atacante Wanderley. Ele empatou e levou as finais para dois jogos. O América venceu por 1×0, gol de Moura cobrando falta e o segundo com Wanderley vencendo o goleiro Oscar.

O América vinha mal no campeonato potiguar e trouxe reforços pontuais, certeiros, vencedores: o goleiro Jorge Pinheiro, o volante Washington Lobo, o meia Moura – maior destaque de 1996 e o centroavante Wanderley, vindo dos juniores do Sport e com vocação goleadora.

O ABC manteve uma distância olímpica do campeonato pois achava que em qualquer momento dispararia e venceria o maior rival. Uma derrota para a Pauferrense – em nova falha de Márcio -estabeleceu o imprevisível como condutor das emoções.

Enquanto o América tinha vaga garantida na Série D, fez parte de uma chave regionalizada com times de Pernambuco, da Paraíba, de Alagoas e de Sergipe mantida a base vencedora do Estadual, o América trouxe os atacantes Cícero Ramalho e Márcio Caruarú e o lateral-direito Cafezinho, que trocara pontapés, ele pelo Madureira, contra Romário do Flamengo.

O público médio do América na Série B foi de 5 mil pessoas na primeira fase quando desencantou o futebol do quarto-zagueiro Gito e sua bomba atômica que machucava goleiros e estabelecia vitórias dramáticas contra adversários de folha de pagamento superior à do América.

O coro da torcida a cada cobrança de falta próxima à área adversário: “Gito, Gito, Gito!”e o chute anormal obrigando os goleiros ao esforço incomum. Na sorte e no futebol, o América partiria para duas partidas eliminatórias, O primeiro adversário foi o Atlético Goianiense, que chegou como se fosse apenas cumprir um protocolo, afinal, enfiaram 3×1 no Serra Dourada em Goiânia.

A massa americana marchou sobre a cidade na tarde de domingo do segundo confronto. E os dois gols de Wanderley, na vitória por 2×0, balançaram as estruturas do Machadão. O Atlético de Goiás voltaria para o seu Estado humilhado e tomando a lição correta.

Fácil foi contra o Moto Clube. No primeiro jogo o América se fechou e conseguiu segurar o 0x0. Na partida da volta, o América enfiou 4×0, de novo Zé Ivaldo mostrando as garras afiadas, com Carlos Mota e Cícero Ramalho. A chance de subir era real, mas os bastidores têm seu desenho imperfeito.

O América estreou contra o Londrina e ganhou por 2×1. Depois, derrota para o União São João de Araras por 3×1 e a inadiável exigência de derrotar o Náutico, time com investimento alto.

Zé Ivaldo, quando faltavam poucos minutos e a eliminação dava pinta de azarar a força americana, Zé Ivaldo entrou e matou o Náutico. “É muito legal quando torcedores do América me cumprimentarem por aquele golaço que jamais imaginei que faria”, conta o ex-atacante, herói da passagem para a primeira divisão.

ABC É um domingo decisivo para o ABC contra o São Bernardo, uma das melhores equipes da Série C. A três pontos da Zona de Rebaixamento, o ABC vai necessitar de orações

Rendição O técnico Roberto Fonseca errou ao anunciar a rendição. Todos sabiam que o ABC não se classificaria, mas a palavra do treinador tem o peso do chumbo.

Promoção Para lotar o Frasqueirão, o ABC baixou ingresso para 25 reais, independentemente disso, o jogo é atraente pela tensão atmosférica que ronda o alvinegro.

Como jogar No meu time titular, Jefinho e Galego podem ser testados juntos. É preciso atacar, não economizar no jogo medroso dos empates.

Futebol feminino Ainda não achei nada pior de assistir.

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