JL renovado – Tribuna do Norte

JL renovado – Tribuna do Norte
Publicado em 10/08/2024 às 16:39

Rubens Lemos Filho
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É fato que há um pacto sobrenatural entre o redator e os fantasmas do velho Estádio Juvenal Lamartine. Lá, vi meus primeiros jogos de futebol, quando já havia Castelão(Machadão), assisti encantado jogos amadores ou dos clubes mais fracos de Natal me sentindo acolhido como em uma cabana no meio do deserto da minha memória.

Sobre o JL, pesquisei e pesquisei duramente, escrevi um livro Estádio Juvenal Lamartine – Primeiro Estádio, lançado em 2022 e o vento que sopra quando passo em frente ao meu templo em miniatura, acreditem, sopra mais leve. O Juvenal Lamartine é a minha terceira casa depois que assassinaram o Machadão.

Quando o visito, sinto arrepios como se existisse um dueto entre o fã e o palco silencioso. Imagino as botinadas de Piaba, as corridas velozes de Bagadão, os dribles humilhantes de Jorginho, o Professor, a canhota elástica de Cezimar Borges, os gols impossíveis de Saquinho.

Bato papo pensando sozinho com Petinha dando suas bicicletas, Véscio cadenciado o jogo com seu pé esquerdo feiticeiro, Vasconcelos estourando até parar no Palmeiras e Internacional(RS). É possível sentir Paulo Izidro batendo seus escanteios tentando o gol olímpico, pode-se saborear o requinte de Wallace Costa, a velocidade de Burunga pela ponta-esquerda e a categoria de Ivan Matos(ainda vivo) driblando atacantes dentro de sua área na função de quarto-zagueiro. Cocó irrequieto e artilheiro.

E Ele? Por que você não cita o Deus? Porque não quero blasfemar. Alberi mudou o futebol potiguar para A.A e D.A. simplesmente porque Alberi, ao jogar no Machadão, campo que lhe deu a Bola de Prata de Placar em 1972, Alberi provou que não era um jogador de quatro cantos de terra, alambrado colado e torcida bafejando ao pé do ouvido.

Imagino Alberi com a camisa do ABC, centro e coroa vigiando e liderando campeonatos exclusivos aos ausentes físicos porque há noite, pela madrugada, os mortos se manifestam. Saem das tumbas para voltar ao JL. Invisíveis, sem emitir sons, repetem as jornadas gloriosas de cada década a partir de 1928.

Certa vez, na década retrasada, a TV Câmara me perguntou qual o local de Natal mais fascinante. Não respondi Morro do Careca, Praia dos Artistas, Redinha, nada. A reportagem foi feita no Juvenal Lamartine onde pisei, orgulhoso, no canto do gol de entrada em que Henrique, ponta-direita vindo de Mossoró, marcou o gol do ABC campeão na última final(1997), disputada no monumento histórico, tombado por sinal.

É difícil explicar como e porque defendo tanto o JL. É aquele amor tórrido de paixão, sem ciúme, amor que evoca os homens de cada ano, os times campeões, os artilheiros, os brigões, os apostadores, João Machado com sua imensa hérnia comandando tudo. Contam que a cadela velha de João Machado provou do doping do massagista Zózimo do ABC e tentou atacar dois policiais militares.

Há boas notícias. Dentro do possível, a Federação está fazendo melhorias como a instalação de novos refletores para jogos de categorias de base. É um bom saber que ainda mais quando se conta que veteranos de ABC e América irão inaugurar as luzes.

O Juvenal Lamartine, silencioso, responde aos seus algozes e aos olhos maus que o queriam derrubado para finalidades absurdas como um parque em plena mancha criminal de Mãe Luiza. Em dia de jogo, teremos a Polícia Militar. Quando recebi as boas notícias do Estádio Juvenal Lamartine, estava de cabeça inchada. A vida dando-me cutucadas.

Ao saber das boas novas, só me resta apelas para que o JL abra para jogos profissionais, recuperando uma era de ouro em que o Riachuelo virava Real Madrid, o Atlético, se travestia de Flamengo, o Ferroviário de Fluminense e o Força e Luz de Atlético. Estou envelhecendo e preciso de um canto para mim. Esse refúgio é o Juvenal Lamartine.

Reforma A Federação de Futebol está fazendo uma reforma no estádio com a construção de salas, pintura do estádio inteiro e iluminação de estádio de verdade. A reforma está em fase final e está sendo custeada apenas com verba da Federação.

Jogos O JL cala a boca dos seus verdugos quando se revela: é o estádio com o maior número de jogos de futebol no Rio Grande do Norte: foram 127 realizados em 2024, número que será superado com os jogos da Divisão Sub-20 e do Campeonato estadual feminino.

TV FNF É o veículo de maior audiência do Estado com a transmissão das categorias de base no Juvenal Lamartine e também com jogos fora, como ocorreu em Retrô x América com 133 mil curtidas. O segundo melhor público foi América 1×0 ABC com 130 mil. Ao todo, 5 milhões de visualizações.

Treinos Além disso, o gramado, que está um brinco, é cedido aos clubes para treinamentos e jogos-treinos sem a presença de público.

Arbitragem Está sendo formada nova turma de árbitros com 76 integrantes que estão usando o JL para aulas práticas. Os árbitros em atividade também treinam lá.

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