O veneno – Tribuna do Norte
Vicente Serejo
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Anote, Senhor Redator, e cobre quando achar que deve: se, um dia, o Instituto Butantã resolver incluir nas suas pesquisas um grande estudo em busca de um veneno contra o marketing, fatalmente apontará, com certeza, a sofreguidão. O exemplo recente é de Donald Trump, o truculento presidenciável na eleição presidencial dos EUA. Sôfrego e prepotente, enlouquecido na sua ira, investiu contra a fragilidade do idoso Joe Biden e festejou sua queda diante do mundo.
Teria sido perfeito se Trump vivesse numa pobreza democrática, não na mais consolidada democracia do mundo. Biden renunciou e lançou a candidatura de Kamala Harris, sua vice.
Uma mulher ainda com todo vigor, de origem negra, ousada como há de ser uma mulher moderna com a coragem de enfrentar o poder. O que restou dos rasgos de Trump foi uma disputa agora muito mais dura, empatada nas pesquisas, um patamar no qual Joe Biden nunca havia posto os seus pés.
Cabe uma indagação: se a estratégia estivesse acima dos desarranjos temperamentais de Trump, e se tivesse sua retórica controlada, não teria sido mais estratégico manter a candidatura de Biden? O fragor dos assanhados e inquietos neurônios de Trump levou sua campanha a uma luta mais dura.
A frieza e a serenidade são os mais importantes atributos da luta política. Aqui, na mais humilde vila, ou nos EUA, o país que ostenta a maior e mais potente economia do mundo.
O fato leva a um prognóstico de derrota de Trump? Não. Mas também não cimenta o chão de uma vitória tão fácil. A estatística nos Estados Unidos é uma técnica tratada com o rigor de uma tradição voltada para a mensuração dos gestos e reações individuais e coletivas da sociedade.
Se Kamala disputa, voto a voto, a Casa Branca, os riscos e as chances dos dois são rigorosamente iguais. O futuro com a renúncia de Biden, pode ser dos dois. O que antes parecia ser de um só.
Participei, muito discretamente, de um grupo de simulações estratégicas numa campanha eleitoral. Não foi uma experiência rica e profunda, nem sou um especialista em estratégia, a ponto de ter domínio teórico e prático. Mas, assisti a várias discussões em torno de relatórios e mais relatórios de pesquisas quantitativas e qualitativas. Vi o retrato de derrotas inacreditáveis caindo nos olhos, assim como vitórias crescendo, pesquisa a pesquisa, desafiando até a lógica política.
Saí de lá bem certo de que não há personagem mais nocivo nas análises de resultados de pesquisa do que o sôfrego. E se sobre a sofreguidão desabar a força raivosa contra o adversário, ai, então, é fatal. Lembro de uma pequena experiência de bater duro no adversário e aplicar uma sondagem. Disparados três foguetes de ogivas flamejantes, veio a pesquisa depois dos três dias de petardos. O quadro era rigorosamente o mesmo. O eleitor queria votar no adversário. E votou.
PALCO
HOJE – Ciro Pedroza autografa hoje, à partir das 14h, na Feira do Livro, Centro de Convivência, UFRN, seu novo livro “O Triunfo da Esperança’, a análise da campanha de 60 de Aluízio Alves.
DANTAS – Amanhã, na Quinta Cultural, às 17h, a jornalista Renata Passos vai falar no Instituto Histórico sobre a importância das “Fotografias Estereoscópicas Seculares de Manoel Dantas”.
RETIRO – As cabeças coroadas da Arquidiocese de Natal, mas algumas nem tanto, farão retiro no Rio de Janeiro. Em nome da fé, mas também longe dos olhos e ouvidos da aldeia mexeriqueira.
PRÊMIO – O Colégio CEI (Romualdo e R. Freire) outra vez tem projeção nacional com três prêmios no Congresso de Diretores do Grupo Salta, SP. Maior nível de satisfação dos alunos.
BRILHO – Dinarte Assunção brilha no jornalismo investigativo. Agora faz parte da Organized Crime and Corruption Reporting Project. Um jornalista, de verdade, vai além do apenas comum.
PODER – Do padre João Medeiros Filho, citando Jesus, para avisar aos incautos que dobram os sinos da pobre servidão: “Tenho pena dessa gente, cansada e abatida, como ovelha sem pastor”.
POESIA – De Ascenso Ferreira, hoje escultura nas margens do Capibaribe, no ‘Mulata Sarará’, assim: “No Brasil, quem te nega está fazendo é fita, / pois tu és, na verdade, uma coisa bonita”.
RECEITA – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, olhando a morena que passava no beco, tão leve com uma pluma: “O desejo pode ser até pecado, mas foi Deus que inventou”.
CAMARIM
DELFIN – O jornalismo do Rio Grande do Norte deve a Augusto Carlos Garcia de Viveiros a entrevista, naqueles seus noventa anos, com a participação de Gerson de Castro, Everton Dantas e este cronista, transmitida ao vivo pela Tevê Assembleia e com a duração de mais de uma hora.
COMO – Viveiros era amigo de Delfin ambos exerciam seus mandatos na Câmara Federal e por essa articulação a entrevista foi possível. Lembro que pedi ao ministro uma análise do conceito de economia neoliberal invocada com pedantismo, à época, pelo então ministro Paulo Guedes.
VAIDADE – Delfin, lavando as palavras com aquele ar de riso finamente irônico, desmontou a invenção de Guedes, com saber, mas sem economês e sugeriu que perguntasse a Guedes sobre a invenção. No dia seguinte Viveiros telefonou para dizer que ele elogiou a pergunta deste cronista.