A sinodalidade impulsiona a missão da Igreja sob a orientação do Espírito Santo

A sinodalidade impulsiona a missão da Igreja sob a orientação do Espírito Santo
Publicado em 06/12/2024 às 5:57

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal

O Documento Final da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos lança a todos os batizados um chamado à missão (Doc. Final, 57-67; 75-87; 140-153). “Evangelizar é ‘a missão essencial da Igreja […] é a graça e a vocação próprias da Igreja, sua identidade profunda’ (EN 14)” (Doc. Final, 32).

O processo sinodal revelou que todos os batizados, independentemente de seu estado de vida ou função, são chamados a ser protagonistas da missão evangelizadora (Doc. Final, 57-59). “A sinodalidade não é um fim em si mesma, mas visa à missão que Cristo confiou à Igreja no Espírito” (Doc. Final, 32). Intimamente conectadas, a missão ilumina a sinodalidade, enquanto esta, por sua vez, conduz à missão. “Na Igreja sinodal, toda a comunidade, na livre e rica diversidade de seus membros, é convocada a orar, ouvir, analisar, dialogar, discernir e aconselhar na tomada de decisões” (CTI, nº 68) para a missão (Doc. Final, 87).

Como instrumento de renovação contínua, a sinodalidade permite que a Igreja responda ao seu chamado missionário, escutando os clamores dos pobres, promovendo a inclusão e anunciando o Evangelho com alegria e autenticidade. Não sendo um fim em si, a sinodalidade estimula o compromisso de “sair ao encontro das periferias existenciais”, marcadas pela pobreza, exclusão, injustiça e falta de sentido. Esse movimento, além de ser um ato de amor ao próximo, transforma a Igreja em um sinal de unidade e esperança para toda a humanidade.

A missão não é exclusiva do clero, mas um empreendimento coletivo enriquecido pelos dons e carismas de todos os fiéis. “Os Padres da Igreja refletem sobre a natureza comunitária da missão do Povo de Deus por meio de um tríplice nihil sine: ‘nada sem o bispo’ (Santo Inácio de Antioquia, Carta aos Trallesianos, 2.2), ‘nada sem o conselho dos presbíteros, nada sem o consentimento do Povo’ (São Cipriano de Cartago, Carta 14.4). Quando essa lógica do nihil sine é quebrada, a identidade da Igreja é obscurecida e sua missão é inibida” (Doc. Final, 88).

Por ser uma obra coletiva, a missão exige a valorização do papel dos leigos, o protagonismo das mulheres e a inclusão de jovens e grupos marginalizados como agentes essenciais na vida eclesial. Para que a missão alcance sua eficácia plena, é indispensável uma verdadeira conversão relacional dentro da Igreja. Isso requer a promoção de relações baseadas no diálogo, na escuta e no respeito mútuo (Doc. Final, 50-54). Além disso, a missão convoca à superação de divisões internas e à erradicação de atitudes clericais que comprometem a sinodalidade e dificultam a participação plena de todos os fiéis.

A renovação missionária da Igreja exige discernimento, mudanças estruturais e uma formação contínua de discípulos missionários, capacitados a testemunhar o Evangelho. Por sua vez, o discernimento comunitário, que valoriza todas as vozes, é um elemento essencial para concretizar a missão de maneira viva e eficaz. Por isso, o Documento Final enfatiza a necessidade de reformar os conselhos, assembleias e outros órgãos participativos, tornando-os mais eficazes, transparentes e comprometidos com a missão (Doc. Final, 103-108). Isso reflete o esforço para alinhar as práticas pastorais com as demandas contemporâneas e criar um ambiente verdadeiramente sinodal e missionário.

Longe de ser uma escolha opcional, a missão é uma resposta imprescindível ao Evangelho e aos desafios do tempo presente. Essa tarefa demanda conversão, coragem e corresponsabilidade de todos os batizados, permitindo que o Espírito Santo continue a guiar a Igreja em sua vocação. Dessa forma, a missão torna-se uma expressão prática, viva e concreta de uma Igreja sinodal no coração do mundo.

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