Abandono de parques aquáticos e o contrato que consumiu R$43,3 milhões em dois anos

Abandono de parques aquáticos e o contrato que consumiu R$43,3 milhões em dois anos
Publicado em 04/11/2024 às 8:40

Moradores enviaram imagens feitas na semana passada para mostrar situação do Parque Aquático do Caçari (Foto: Divulgação)

Não faz muito tempo, o forte calor, que só deve aumentar a partir dos próximos meses, devido ao período de forte estiagem, era aplacado pela população boa-vistense nos parques aquáticos que existiam em alguns bairros, incluindo o do Parque Anauá. No entanto, esses pontos de lazer, esporte e cultura, que abriam aos feriados e fins de semana, estão sendo consumidos pelo tempo ou já totalmente deteriorados devido ao completo abandono.

Não se trata de uma realidade apenas na periferia da Capital, mas também em área nobre, a exemplo do bairro Caçari, onde o descaso com o Parque Aquático do Caçari soma-se ao dos demais bairros: Caranã, Jardim Primavera e Asa Branca (este último nem existe mais) e o do Parque Anauá (que virou sucata). Existem ainda os dos municípios do interior: Parque Aquático Teobaldo Pape, em Alto Alegre; Parque Aquático Ottomar Pinto, em Caracaraí; e Parque Aquático de São Luiz do Anauá.

Não se trata de um desleixe puro e simples ou parte de um plano para dar fim a esses locais de encontro, lazer e cultura da população por questão de economia ou por outro interesse público.  Há algo mais em questão que precisa ser explicado. Em 2022, por meio da Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed), o governo estadual assinou contrato com uma empresa para que realizasse serviços de manutenção nos espaços de lazer e desportivos, pelo valor de R$ 19,2 milhões.

Além dos parques aquáticos citados acima, da Praça das Águas do Totozão e do complexo do Parque Anauá, estavam incluídos no contrato o Estádio Ribeirão, o Campo Rei Pelé, Campo do Caranã, Estádio Canarinho, o próprio Ginásio Totozão, o Ginásio Hélio Campos e vários outros ginásios na Capital e interior (do Pintolândia, do Tancredo Neves, Antônio Assunção, de São João da Baliza, de São Luiz do Anauá, de Caroebe, de Mucajaí, de Iracema, de Caracaraí, do Cantá, de Bonfim, de Normandia, de Alto Alegre e Pacaraima) e a quadra coberta de Vila Moderna, em São Luiz do Anauá.

Conforme anúncio feito no dia 1º de abril de 2022, a empresa deveria realizar manutenção preventiva e corretiva dos 32 espaços públicos. Mas, fazendo jus àquela data, dois meses depois da assinatura do contrato o governo decidiu leiloar o Parque Aquático do bairro Asa Branca com lance inicial de R$ 2,6 milhões. O tempo foi passando e as reformas não aconteceram ou estão paralisadas até hoje, sem que ninguém saiba o que realmente foi feito.

E não há como esconder a realidade dos fatos, pois o Parque Aquático do Caçari é o testemunho fiel do que ocorreu com a dinheirama destinada a este contrato. Localizado na área central de um bairro nobre, à vista de todos, hoje serve de criadouros de mosquitos transmissores de doenças, devido ao matagal, água parada e lixo; além de moradia para sem-tetos e abrigo para desocupados.

Não se trata apenas de cenas de abandono e descaso.  Além de não se saber o que efetivamente foi feito dentro do que havia sido contratado em 2022, no início de 2023, quase um ano depois, o contrato foi renovado por igual valor do contrato original, totalizando R$38,4 milhões para seguir com os mesmos serviços. Como se não fosse suficiente, em dezembro do mesmo ano, a Seed publicou um aditivo ao contrato no valor de R$4,9 milhões!

Significa que, em quase dois anos de contrato, foram destinados R$43,3 milhões para manutenção preventiva e corretiva em 32 espaços públicos que nunca se saberá o que realmente foi realizado, a exemplo dos parques aquáticos que hoje se encontram fechados ou abandonados ao descaso. Outro local que foi objeto do contrato e que segue fechado até hoje é a Praça das Águas do Ginásio Totozão, reinaugurado com festa a cinco dias das eleições de outubro de 2022, após passar 10 anos fechada.

Quase três anos depois desse contrato, com 2024 seguindo para os seus últimos meses, até agora ninguém deu explicações sobre esse contrato, mesmo que a população venha cobrando por meio das redes sociais, mostrando imagens do descaso e expondo revolta por obras nunca realizadas ou locais de lazer, esporte e cultura sendo deteriorados pelo tempo.

Com a palavra, os órgãos fiscalizadores…

*Colunista

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