Arte e esporte em Ceará Mirim
Marco Emerenciano
Tradutor, pesquisador, advogado, Presidente da ACLA e sócio do IHGRN
Há dois personagens nesse texto aos quais devo rememorar. Pela ordem, na linguagem jurídica, Aderson Eloy de Almeida, meu avô, pai da minha mãe Yêda e sogro do meu pai Aécio Emerenciano. Aquele paraibano de Campina Grande nascido aos quatro de abril de 1914, filho de João Eloy de Almeida e Dona Lilica, veio atracar sua jangada em Muriu e Ceará Mirim, vejam vocês. Por certo, os laços entre a Paraiba e o Rio Grande do Norte sempre foram muito fortes, como os nós que amarravam as naus portuguesas na costa do Brasil.
Ricardo Sobral, amigo acadêmico da ACLA, filho de Joaquim Fernandes Sobral e Maria de Lourdes de Moura Sobral, compadres de Aderson e D. Deda pelo batismo de Tereza, filha mais nova do casal Sobral, admirador do ex prefeito, escreveu algumas linhas sobre ele. Registrou que depois de estudar no Colégio Marista e cursar contabilidade, veio ao Ceará Mirim a convite do amigo de infância João Úrsulo Ribeiro Coutinho Filho. Ele, irmão de Odilon Ribeiro Coutinho, e demais irmãos haviam comprado a Usina Ilha Bela em 1947, fazendo de Aderson Eloy o Diretor Comercial e sócio do empreendimento usineiro.
Para comprovar a ligação entre esses dois paraibanos e a atividade empresarial, transcrevo o texto de cartão postal remetido por João Úrsulo Ribeiro Coutinho Filho ao amigo Aderson Eloy de Almeida, em 1967, de Paris, com fotografia de uma das margens do Sena, assim: “Meu caro Aderson, faço votos de ótima saúde para você e família. Para sua meditação: A economia européia abusou da sua estabilidade técnica, tornando-se demasiado conservadora e, por isso, enfrenta dificuldades somente solucionáveis com novas tecnologias e dimensão. Todos procuram a bitola americana para competição. Lembranças e abraço do Jõao Úrsulo. Paris, 15/7/1967”.
Em 1962, Aderson Eloy elegeu-se prefeito da terra dos Verdes Canaviais sucedendo Edgar Varela. Aderson governou por cinco anos e sua gestão foi muito bem aprovada pela coletividade. Com espírito público, construiu o Palácio dos Esportes da cidade que levaria o seu nome. Não a toa, mas Aderson jogou no Treze de Campina Grande quando jovem e tinha uma paixão pelo futebol. Sobral escreveu que a prefeitura de Ceará Mirim não dispunha de crédito para finalizar a obra, a cobertura, diga-se, e Aderson utilizou recursos próprios para isso. Aderson era um homem maior que o corpo que Deus lhe deu. Enriquece a paisagem humana Ceará-mirinense e por isso deve ser lembrado e reverenciado, sentenciou.
E aqui, nesse tempo, entra a figura do segundo personagem, o jovem artista e Promotor de justiça Aécio Emerenciano, para dar plasticidade ao Palácio dos Esportes com a confecção de um mural. A convite do seu sogro, então prefeito, desenhou atletas por sugestão de Odilon Ribeiro Coutinho, seu compadre padrinho de Marco, meninos e meninas com os braços entrelaçados, lado a lado.
É bem provável que tenha buscado inspiração nas pinturas de Navarro com atletas em movimento, ou em Portinari quando desenhou meninos jogando futebol em 1935, ou mesmo no busto do atleta que Picasso pintou em 1905. Os traços de Aécio nesse mural são enérgicos, mas com linhas simples, e ocupava as fachadas laterais do Palácio dos Esportes. Guardo registros fotográficos de Aécio diante da obra recem pintada no templo do esporte de Ceará Mirim.
A vida é arte. Não é possível separar a arte da vida. A arte é luz, é forma e cores.
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