ARTIGO: Gerações de Cristal: A Educação que Cultiva a Fragilidade. Por Marcus Aragão
Mimados e complicados. Os jovens das gerações Z e Alpha, têm sido frequentemente chamadas de “gerações de cristal” — brilhantes, conectadas, mas extremamente frágeis quando confrontadas com adversidades. Dois casos recentes ilustram essa realidade: o episódio da mãe no avião que tentou expor publicamente uma passageira por não ceder seu assento na janela, e o passageiro de Uber que fingiu ser agredido para sustentar uma narrativa de vitimização. Ambos são símbolos de um fenômeno maior: a dificuldade crescente de lidar com frustrações, muitas vezes moldada por uma educação que evita dizer “não”.
— O mundo tem que se ajustar às necessidades de uma criança?
A mãe do avião representa uma visão da parentalidade moderna que prioriza o conforto emocional imediato da criança, muitas vezes em detrimento do aprendizado sobre limites e adversidades. Sua insistência para que a passageira Jeniffer Castro cedesse seu lugar, mesmo quando ela tinha todo o direito de recusá-lo, revela uma crença comum entre alguns pais: Que tudo deve girar em torno da criança. Quando isso não acontece, o desconforto é externalizado — neste caso, por meio da exposição pública da passageira, como se a responsabilidade pelo bem-estar do filho fosse dela.
Essa abordagem cria adultos que, ao enfrentarem um “não”, veem a frustração como algo intolerável. Em vez de buscar soluções maduras, como negociar ou adaptar-se, muitos recorrem à manipulação emocional ou à vitimização, como no caso do passageiro de Uber. Ele simulou uma agressão para criar uma narrativa de injustiça, sem considerar as consequências para o motorista que poderia ter sua reputação arruinada.
Além disso, o psicólogo social Jonathan Haidt, em seu livro “Geração Ansiosa – Como a Infância Hiperconectada Está Causando uma Epidemia de Transtornos Mentais”, explora os desafios enfrentados por crianças e adolescentes em um mundo hiperconectado. Haidt destaca como essa nova realidade tem contribuído para uma epidemia de transtornos mentais, com jovens frágeis e intolerantes.
— Os Desafios do Mundo Real
A grande questão que emerge é: como esses jovens vão enfrentar os desafios da vida adulta, onde os “nãos” e as frustrações são inevitáveis?
• Essa criança, que cresceu com pais eliminando qualquer desconforto, vai ganhar o que quer ou o que o mercado está disposto a pagar?
• E quando não passar no Enem ou no concurso público?
• Como lidará com um chefe exigente que não poupa críticas ou com a falta de reconhecimento no trabalho?
• E quando enfrentar uma separação conjugal ou precisar lidar com uma perda financeira?
Esses questionamentos evidenciam como uma educação que evita frustrações pode criar adultos despreparados para encarar o imprevisível, onde resiliência e adaptação são fundamentais.
— Geração Mi-mi-mi-mada
Os casos recentes do avião e do Uber não são isolados; Assistimos por toda parte, seja no avião, no shopping, no restaurante, na escola e no parque. São sintomas de uma geração que, em muitos casos, foi poupada de frustrações e, por isso, tem dificuldade em lidar com elas. Enquanto pais, educadores e sociedade, precisamos encontrar um equilíbrio entre proteção e preparação. A resiliência não é inata, mas pode ser aprendida. E ensinar isso às novas gerações é uma das maiores responsabilidades que temos, para que se tornem indivíduos emocionalmente fortes e capazes de enfrentar os desafios do mundo real.