Bate forte o tambor – Tribuna do Norte
Valério Mesquita
Escritor
Espero que esteja vivendo um tempo de desarmar os presságios. Não desejo acreditar que na política existam só amigos, mas, conspiradores que se unem. Aos olhos alheios, unidade partidária, coligação, ambas desapareceram para dar lugar a um consórcio, onde o partido menor nunca é sorteado. No meu entendimento virou tribo, facção e não tem quem junte os pedaços depois. Prefeitos, vereadores, líderes municipais, votam pacotes de candidatos díspares, de governador a senador, de deputado federal e estadual, como se fossem salada de frutas, ou coquetel exótico de bruxaria. A continuar assim, vamos chegar ao tempo de desarmar os frutos e até mesmo ao de querer desviver o tempo, ominoso e fatal para a coletividade.
A reforma eleitoral neste país, é tema mais batido do que caminho de cemitério. Com o “fundão eleitoral”, o processo virou uma ação orquestrada que caracteriza as relações íntimas entre os lobos ideológicos contra pseudos pastores teólogicos. Presume-se, com o andar da carruagem, que estamos sob o fascínio do desconhecido, do buraco negro. A caixa preta do segundo turno está rondando a ressaca eleitoral dos candidatos. A hegemonia política de muitos líderes está morrendo. É o processo depurativo das figuras messiânicas, de megafone em punho, entoando chavões pela recuperação financeira do país e do Rio Grande do Norte. Esse caldeamento político dos nossos dias, é igual a despacho de encruzilhada. Lembrei-me daquele acordo de paz pública, no passado. Não há como acomodar numa mesa apetites tão difusos, confusos e obtusos. É por isso que bate forte o tambor da imprevisibilidade.
Garimpando o pensamento do saudoso natalense João Sena, li essa jóia: “O ser humano não só morre quando desencarna, mas também, quando se desencanta”. E casados no desencanto continuam vivendo o povo e os políticos. Chegaram à exaustão. A praça pública virou banco de tormento. O povo aplaude mais os músicos do que os oradores. Todo orador, é um chato, cansativo e tedioso. Quando o candidato fala, o povo se afasta. Mas, o liseu não está no meio do mundo, pois o importante é não cair a Bastilha. Isso conforta os candidatos que se exporão tanto ao sereno, quanto ao sol, à chuva e ao mormaço das penosas aglomerações. São as fases da vida pública. Outro filósofo, já dizia “que a vida é feita de fases e de fezes”. As fases são as estações, as metamorfoses, e as fezes, o consumismo humano do Fundão.
Outro fato relevante, que não dá para entender, são as pesquisas açodadas. Lembrei-me de Chesterton quando disse que “os vícios são as virtudes enlouquecidas”. Será que o povo brasileiro é tão volúvel assim? Essa eleição, face os perigos redibitórios, é uma esfinge? Antigamente, o silêncio antecedia o pleito, sem emitir sinais de mistérios, como a eleição presidencial deste ano. A sinfonia outonal vai deixar para trás, em outubro, muito candidato que empreende voo cego, impensado, sem bússola e sem bossa.
Eu me recordo de Assis Besouro, experiente marqueteiro potiguar, explicando a situação daquele tempo (1998), das divergências do PMDB, PT, PSDB e etc., – com aquela fisionomia de permanente mormaço, proveniente das andanças políticas pelo Rio Grande do Norte – “que tudo numa eleição é estratégico”. Daí, ter surgido hoje, o orçamento secreto. E é fato que nas estações da política, as notas caem. E o outono chega. Pois eleição que não se ganha, se toma, dizem.
Napoleão Bonaparte admitiu apenas duas potências no mundo: “a espada e o espírito. A longo prazo a espada sempre é vencida pelo espírito”. A espada é o poder e o espírito a palavra. É comum os dois não falarem o mesmo sotaque, o mesmo idioma. Mas, a canção do voto é tudo, pois tem sangue eterno e coração ritmado. Todo país já atravessou as noites escuras do tempo. É pobre o país que tem necessidade de mitos.
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