Categorias de Base – Tribuna do Norte
Itamar Ciríaco
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Não sou um fã do estilo Vanderlei Luxemburgo. Acho ele “tosco” e não afeito a atualizações, além de possuir um ego que nunca desinflou apesar da sequência enorme de insucessos, depois de tudo que conquistou, chegando, inclusive, a comandar o maior clube do mundo: Real Madrid.
Apesar disso, como sempre digo, ninguém está sempre 100% certo, nem 100% errado. Em uma entrevista recente, ele fez uma análise sobre as categorias de base do Brasil que eu concordo. “Estão colocando meninos cada vez mais jovens para obedecerem táticas. Não incentivam o drible, nem o talento. É só pega e passa, pega e passa a bola. Estão acabando com o DNA do futebol brasileiro”, disse ele.
Concordo sob todos os aspectos com Luxemburgo. Passamos anos confundindo importar a organização e determinação tática européia, com substituição de nossas características que tornaram o futebol brasileiro o maior vencedor no mundo, exportador de talentos e encantador de torcidas. Esquecemos de manter nosso estilo, mas dentro de padrões que assegurem uma organização de jogo.
A prova está na dificuldade atual de acharmos atletas com talento para determinadas posições. As alas, que sempre foram forte no Brasil, com Roberto Carlos, Marcelo, Júnior, Nílton Santos, Leandro, Leonardo, Cafú e tantos outros, estão sofrendo. A cópia de modelos europeus que tiram a possibilidade de alas habilidosos que chegam à linha de fundo resulta nisso. O próprio Marcelo, que chegou depois de Roberto Carlos no Real Madrid já tem muito mais a característica de ir para o meio que o seu antecessor.
No meio campo nem se fala. Atualmente, o futebol brasileiro possui apenas um meia de verdade: Paulo Henrique Ganso. Tão criticado, o camisa 10 do Fluminense agora é exaltado por muitos. Este jogador foi o mais massacrado pela ideia de “europeização” do futebol brasileiro do que qualquer um. Criticado por não se adaptar jogando na Espanha, o atleta era considerado um ex-jogador, lento, atraso para a velocidade do jogo, enfim, um peso para qualquer time considerado moderno.
Pois bem, ele encontrou em Fernando Diniz a solução. O Fluminense joga em torno de sua genialidade. O Tricolor busca seus passes. Os jogadores se movimentam pensando em receber a bola que vem do camisa 10. Mano Menezes substituiu Diniz, mexeu no time, mas, como não é bobo, manteve essa movimentação. Sem PH Ganso, nos últimos jogos, o Flu sofreu.
Diante desse sucesso e com passes magistrais, Ganso voltou a ser tema de debate e muitos o queriam na Seleção Brasileira. Mas, na minha visão, com Dorival Júnior, seria para se queimar, assim como está acontecendo com Vini JR. Ouço em todos os lugares o mesmo comentário: “Ele só joga no Real Madrid. Na Seleção não joga nada”. Isso não existe. Se o cara é o craque do futebol mundial no momento, se decide 9 dos 10 jogos do clube espanhol em uma competição duríssima como a Liga dos Campeões, e está mal no Brasil, o problema é da “Amarelinha” e de seu comando técnico que não acham uma solução, um modelo adequado para encaixar o camisa 7.
Hoje (14) é dia de, mais uma vez assistir à Seleção Brasileira. O jogo contra a Venezuela é uma nova oportunidade para saber se esse time vai evoluir com esse comandante. Eu acredito que não. Vejo que o Brasil precisa de um caminho novo, com a cara brasileira, ainda que o técnico não seja nosso. Mas como assim? Existem treinadores não brasileiros que possuem um DNA mais nacional que muitos dos que trabalham em terras tupiniquins.
Quem é o técnico do mundo que privilegia mais o talento hoje em dia? Guardiola. Quem seria o segundo? Fernando Diniz. O primeiro esteve para vir antes de 2014, mas a CBF preferiu apostar no retorno de Felipão. O segundo caiu na armadilha de aceitar uma proposta de uma gestão que faz de tudo para se manter no poder e não para fazer o melhor pelo futebol brasileiro. Resultado: Perdeu o foco e os empregos, na Seleção e no Fluminense. Até agora, tanto sofrem o Tricolor, quanto o treinador que hoje comanda o Cruzeiro.
Espero que haja uma solução. O futebol pentacampeão merece mais do que contratos bilionário com fornecedores de material esportivo e jogos caça-níqueis contra seleções do terceiro mundo do esporte. Vivi a “seca” de 1970 a 1994. Depois desfrutei de lindos anos com o título nos EUA, o vice-campeonato na França e outro título no Japão. Neste meio tempo fomos campeões “n” vezes da América e da Copa das Confederações. Assisti jogos mágicos com talentos como Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Cafu, Roberto Carlos, Adriano, Romário, Bebeto, Branco e tantos outros.
Não considero essa geração uma “safra” ruim como dizem por aí. Sim, ela está influenciada por aquela formação estilo europeu a qual me referi no início da coluna. Sim, nós temos que lidar com atletas como Paquetá e alas de qualidade mais que duvidosa. Mas, naquela época também tínhamos “Zinhos”. Dificilmente teremos 11 craques em campo. Em toda grande equipe existem os “carregadores de piano”.
Mas, se o futebol brasileiro quiser voltar a brilhar precisa arranjar um jeito de ter o talento em campo. Tem que ter Vini, Rodrygo, Endrick, Estêvão e André em campo. Como? Assistam a famosa entrevista de Telê Santana ao Roda Viva. Uma lição. Ele, em uma resposta a um jornalista que perguntou sobre ser mais contido naquele jogo contra a Itália em 1982 disse: “Eu tinha que achar um jeito de jogar com Zico, Sócrates, Falcão e Cerezo. Não poderia deixar eles no banco de reservas. Os craques precisam estar em campo”. Aquela derrota, para uma excelente Itália, não se repetiria. Foi do jogo. O futebol nem sempre é justo. Aquilo determinou a criação de várias gerações de “cabeças de bagre”, infelizmente e, começando pelas bases.
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