China: enquanto crescimento desacelera, Pequim tenta impulsionar economia
O Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) adotou novas medidas para apoiar a economia em dificuldades do país, em uma mostra da crescente ansiedade sobre o crescimento, dias após o líder Xi Jinping estabelecer sua visão de longo prazo para transformar a China em uma potência tecnológica e rivalizar com os Estados Unidos.
Na quinta-feira (25), o PBoC informou que cortará sua principal taxa de juros e injetou o equivalente a mais de US$ 25 bilhões no sistema bancário chinês. A medida surpreendeu investidores, pois ocorreu fora da sequência usual de mudanças políticas nos juros e outros instrumentos do BC local.
O corte se seguiu a outras medidas de relaxamento desta semana, inclusive uma redução em outra taxa de juro e também em taxas de referência para empréstimos dos maiores bancos do país. Juntas, as medidas marcaram um relaxamento mais substancial da política desde o início do ano, quando o PBoC também enfrentava perda de fôlego no crescimento. O yuan avançava 0,7% frente ao dólar, nas negociações offshore no início da quinta-feira, com um dólar cotado a 7,22 yuans.
Ainda assim, para muitos economistas, embora os cortes de juros do PBoC sejam bem-vindos, não são o remédio correto. O crescimento local está sob pressão diante de uma implosão épica no setor imobiliário e do colapso na confiança do consumidor. Investidores estrangeiros deixam o país. O governo injeta dinheiro em fábricas para compensar a fraqueza em outras áreas, o que impulsiona uma onda de exportações e tensões crescentes no comércio. As companhias perdem dinheiro e os preços estão estáveis ou em baixa, elevando o espectro de uma fase prolongada e danosa de deflação.
O resultado de tudo isso é uma economia que perde impulso. O crescimento desacelerou a 4,7% no segundo trimestre, de 5,3% no primeiro. Em vez de forçar mais crédito, economistas argumentam que o governo deveria elevar o gasto fiscal para impulsionar diretamente o crescimento e adotar medidas mais fortes para acabar com a fraqueza no setor imobiliário que freia a economia do país há três anos. Pequim tem relaxado algumas restrições para a compra de residências e anunciou planos de comprar casas não vendidas para moradia popular. Ainda assim, os preços das residências caem e o investimento no setor imobiliário recua.
“Cortes de juros podem ajudar na margem, mas não são suficientes”, avalia Duncan Wrigley, economista-chefe para China da Pantheon em Londres.
A abordagem cautelosa de autoridades pode refletir o desejo de manter poder de fogo, caso a eleição em novembro nos EUA seja vencida por Donald Trump, o que traria o risco de outra escalada nas tensões bilaterais com potenciais prejuízos à economia, disse Rory Green, economista-chefe de China da TS Lombard GlobalData, em nota de pesquisa nesta quinta-feira. Líderes da China reiteraram sua ambição para crescimento de 5% neste ano mais cedo neste mês.
Os cortes de juros desta semana podem ajudar a atingir essa meta, segundo economistas, e muitos esperam que o PBoC relaxe mais sua política nos próximos meses, talvez ao reduzir as reservas que os bancos precisam manter, o compulsório, para emprestar mais. As crescentes expectativas de cortes nos juros nos EUA também dariam ao BC chinês e a outros bancos mais margem para cortar juros sem provocar desvalorização cambial nem fuga de capital. Pequim também pode elevar modestamente os empréstimos para financiar investimentos em infraestrutura e manufatura.
Mas um grande estímulo não é algo à vista, segundo economistas. A China já enfrenta um nível elevado de dívida e Pequim teme voltar a inflar uma bolha no setor imobiliário que impulsionou a economia durante anos. Uma moeda mais fraca geraria o risco de fuga de capital.
Para Xi, o desempenho econômico de curto prazo é menos importante que sua ambição mais longeva de cimentar o status da China como potência importante na manufatura global e impulsionar a tecnologia. Para isso, ele destina dinheiro às fábricas chinesas, em especial as com manufatura avançada e setores cruciais como veículos elétricos, baterias e equipamentos ligados à energia limpa.
O PBoC anunciou nesta quinta-feira corte na taxa de juros de seu instrumento de empréstimo de médio prazo de 2,5% a 2,3%. Ela é usada para prover fundos aos bancos que emprestam a famílias e empresas. Os bancos chineses afirmaram que reduziriam suas taxas de depósito para os poupadores para defender suas margens, pressionadas por taxas de empréstimo mais baixa e também pela demanda contida por esses empréstimos.
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