Cromático – Tribuna do Norte

Cromático – Tribuna do Norte
Publicado em 30/08/2024 às 6:44

Dácio galvão
Mestre em Literatura Comparada, doutor em Literatura e Memória Cultural/UFRN e diretor da Fundação Cultural Helio Galvão

O filho do marceneiro Tobias saiu de Natal para morar em Tel Aviv. Retornou ao Brasil já artista participando da Primeira Bienal de São Paulo-1951. Selecionado por curadoria internacional. A edição premiou Max Bill -fundador da Escola Superior da Forma em Ulm, Alemanha- com a escultura “Unidade Tripartida”.

O trabalho de Abraham também rompia o padrão convencional de arte. Em 1979, em solo potiguar nos afirmava: “A arte é um dos componentes da atividade humana e sua relação com a ciência e a tecnologia é inevitável”. Esclarecendo que “a minha atividade também é regida pela união da percepção, intuição e sensibilidade com a ciência e a tecnologia”.

Abraham morou no bairro Cidade Alta. Trouxe sobrenome do pai e da Vila, pertencente à família: Palatnik! Na BSP apresentou o “Aparelho Cinecromático”. Inscrevendo arte cinética no cenário global. Dominando mecânicas de motores à explosão integrou-as ao movimento de luzes. Os críticos Mário Pedrosa, Walter Zanini e Antônio Bento já o colocava -desde 1949- nessa perspectiva vanguardística. Quando Abraham Palatnik visitou – acompanhado do designer Almir Mavignier- o Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro – sob direção da Dra. Nise da Silveira- se inundou do Museu de Imagens do Inconsciente. Mais um toque no processo criativo. Foram anos de pintura figurativa. Meses de arte abstrata. Depois as experiências cinéticas.

Primeira vez em Natal fez doação a Fundação José Augusto. Gesto! O artista desfrutava de estratosférica cotação no mercado internacional das artes. Leilões europeus, estadunidenses. Participara da 1ª Exposição Internacional de Arte Cinética-1965 realizada em Paris na famosa Galeria Denise René… O militante do “Grupo Frente” do qual fazia parte Ferreira Gullar, Hélio Oiticica… estava no seu chão. Modesto. Generoso. Mnemônico. Afetivo. Circum-navegando celebrações e recorrências. Pousou segurando escultura em madeira do artista Chico Santeiro. Simbólica confluência da arte do campo eletromagnético com a da manualidade.

A fotografia virou imagem da quarta capa da revista Brouhaha no projeto gráfico de Afonso Martins. Antes o periódico estampara suas esculturas acrílicas. Série industrial: imãs para porta de geladeiras.

Bibelôs… funcionalidade bauhausiana. Obras de Abraham Palatnik potencializaram acervos privados potiguares. Inacessíveis aos olhares coletivos. Trabalhos bidimensionais em cartões prensados. Laca sobre cartão nos “Múltiplos” … Reproduções limitadas em capas de CDs. De Wascyli Simões: geometrias. Antologia Poemúsica: objeto cinético. As peças tridimensionais resinadas e assinadas contabilizam maior número. Em 1997, perguntamos sobre a impressão da cidade-berço: “Na verdade um sentimento de emoção de saudosas e boas lembranças de Natal quando criança”. Vale demais ouvir nas plataformas a homenagem-síntese “Metaplanos” para A. Palatinik na voz do multiartista Bené Fonteles. O autor do livro-disco “Giluminoso a PoÉtica do Ser”.

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