De como perder uma eleição tida por todos como já ganha
Cassiano Arruda Câmara
Não há registro, na política norte-rio-grandense, de nenhum caso de candidato liderando campanha eleitoral que tenha sofrido derrota tão acachapante como a que sofreu agora o candidato Carlos Eduardo Alves (PSD).
Explica-se: ser o franco favorito e não ficar entre os mais votados, conquistando nem mesmo um lugar parao segundo turno.
Vejamos. Antes mesmo dos partidos políticos definirem os seus candidatos, ou o próprio Carlos Eduardo se apresentar como tal, a simples menção do seu nome foi suficiente para afastar pré-candidatos, que não queriam enfrentá-lo.
E assim ele se conduziu até o mês de abril, quando foi procurado direta ou indiretamente, por todos os possíveis adversários.
Começando pelo atual Prefeito de Natal, Álvaro Dias, que entrou na política natalense como do próprio Vice de Carlos Eduardo, vindo de Caicó, onde atuava, com um mandato de Deputado Estadual, e recebeu como missão do MDB essa migração para a capital.
Ele acabou sendo o vitorioso companheiro de chapa de Carlos Eduardo e os dois terminaram eleitos. Com a saída de Carlos Eduardo para a disputa da eleição de governador, Álvaro terminou assumindo a Prefeitura, como vice de Carlos, reelegendo-se na sequência.
Agora, em 2024, Álvaro Dias, Prefeito de Natal, foi instado por aliados a se reunir mais uma vez com Carlos Eduardo para manterem a dobradinha que havia dado certo num passado recente. Até então, Carlos Eduardo, mesmo sem ter conseguido agregar nenhum grupo novo, só obtinha notícias favoráveis.
Talvez como reflexo deste clima, Carlos vaticinou:
– Você sabe que serei eleito com ou sem seu apoio.
O resultado da conversa não foi bom para ninguém e Carlos Eduardo divulgou versão de que Álvaro Dias havia exigido cinco secretarias municipais, todas “de porteira fechada”. Não eram palavras de quem quisesse atrair um aliado.
Carlos Eduardo se manteve candidato em situação de isolamento, mas ficou procurando um vice até quase “o prazo final estabelecido no calendário eleitoral.
O prefeito Álvaro Dias, por sua vez, ficou livre para voar e colocar Paulinho Freire no segundo turno das eleições municipais.
Rafael Motta foi o último a propor se incorporar à campanha de Carlos Eduardo, levando nove inserções diárias do horário de propaganda eleitoral com algo a somar. Um vice com algo a somar.
Carlos Eduardo preferiu compor com um nome representativo do segmento evangélico Jacó Jacome, do seu próprio PSD, que havia perdido uma eleição para deputado estadual.
E assim o jogo foi fechado.
TENDENCIA NÃO CONFIRMADA
Até abril, prazo para definição dos partidos escolherem os seus candidatos para a eleição de outubro, foram registadas 54 pesquisas no Tribunal Regional Eleitoral, todas elas apontavam Carlos Eduardo em primeiro lugar, com tal margem de maioria, que dispensaria o segundo turno.
Desse ponto começou a maior virada na política natalense em toda a sua história.
De novidade, o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV. Carlos Eduardo praticamente não tinha tempo de tv. Para grupo de 15 inserções de Paulinho Freire, Carlos Eduardo tinha só uma inserção.
Foi um massacre.
Na última semana de campanha do primeiro turno, as pesquisas de tracking (diárias para consumo interno) já registravam uma incrível virada.
QUASE IGUAL
Pesquisados e estudiosos não conseguiram chegar a um caso verdadeiro e do conhecimento público, com uma citação inconsistente ao eleito Fernando Collor que sobreviveu a um indesejado segundo turno.
Lúdio Cabral tinha 35%, Abilio Brunini, 39. Eduardo Botelho, 27% Foi a maior zebra do Brasil Central, que só tinha uma certeza, a vitória – tranquila e calma – de Eduardo Botelho.
Essa zebra entrou para a história.
TODOS FICAM IGUAIS
Na eleição de Natal, a primeira notícia foi divulgada no sábado: a primeira pesquisa – realizada pelo Instituto Seta – sobre as intenções de voto para o segundo turno. O levantamento aponta para o empate com Paulinho Freire 50,4 e Natália Bonavides 49.6 %.
A pesquisa também perguntou sobre a rejeição dos candidatos mostrando os dois tecnicamente empatados. Quando pergunta quantos em quem não votariam, Paulinho Freire aparece ligeiramente mais rejeitado: 22,8%. Para a candidata Natália, o percentual é de 22.1% dos entrevistados. Rejeição, aliás, era um dado que ela liderava com folga no primeiro turno e que faz toda a diferença na decisão do voto.
A festa democrática não terminou. São mais duas semanas e perspectivas de muitas emoções.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.