Política
Divaldo Franco – Tribuna do Norte

Vicente Serejo
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Quando a notícia da morte de Divaldo Franco saltou da tela da tevê e caiu, ao mesmo tempo, nos olhos e nos ouvidos, foi inevitável: flutuou nas águas da memória o desenho da velha pasta que dorme, há algumas décadas, no mais alto de uma estante de madeira. Lá estão alguns recortes de uns bons meses do ano de mil, novecentos e oitenta e dois. E fui procurar convencido de que desta vez a memória não enganaria. E que lá, certamente, encontraria uma revelação que poucos devem lembrar.
A notícia da presença de Divaldo Franco em Natal foi como um incêndio de entusiasmo na alma de Sanderson Negreiros. Sua admiração era profunda. Foi ouvi-lo as duas palestras, no Palácio dos Esportes, nas noites do sábado e domingo, como ele mesmo escreve. Era encantado com o grande orador: “Se me pergunto, respondo com urgência: é uma das figuras das mais raras e únicas que mais possam nos impressionar”. E logo acrescenta, feliz: “É um orador espírita realmente espetacular”.
Seminarista e quase padre, leitor de filosofia e teologia, Sanderson tinha consciência crítica e não sentia apenas uma mera admiração de ouvinte. Era alguém que sabia ouvi-lo, como ele mesmo afirma sobre aquele ser tocado pelo “frêmito pascaliano do Absoluto, que não se tornou surdo nesse mundo absurdo, mas, à maneira de Madre Tereza de Calcutá, fez da sua vida uma doação completa e definitiva em favor do próximo, numa bela redescoberta do outro, como no livro de Gustavo Corção”.
Por coincidência, naqueles meses de crônicas recortadas, – abril a dezembro de 1982 – duas vezes Sanderson não escreve a crônica. Nas edições de 18 de setembro e 4 de novembro, do mesmo ano. Transcreve as ‘Anotações do Bom Emanuel”. Na primeira, começa com a frase que certamente lhe marcou fortemente: “A conversa triste com os tristes deixa os tristes muito tristes”. E logo depois, para que a tristeza não pudesse vencer: “Se pretendes auxiliar alguém, começa mostrando alegria”.
É na edição de 23 de novembro de 1982, uma sexta-feira, que Sanderson presta a sua grande homenagem a Meira Pires ao receber a notícia de sua morte. A crônica ‘Meira encantou-se’ ocupa toda a coluna. “Penso nele com uma saudade viva, pois se não mais o contemplo na figura de andar rápido, gestos leoninos, a nervosa necessidade de falar e ser, trago-o, agora na dimensão espiritual: seu coração corajoso de amor, seu fascínio por Deus, sua fé inabalável na imortalidade espiritual …”.
E vem a revelação: Meira Pires mantinha correspondência com Divaldo Franco que dizia ter sido sua mais alta influência. Sanderson revela: “Mostrou-me há um mês todas as cartas de Divaldo – quase quarenta. Uma correspondência de alto teor e voltagem espiritual, de alguém falando uma linguagem que transcende esse dia-a-dia corriqueiro e medíocre, onde todos estamos acostumados a viver”. E escreve Sanderson que a convivência com Divaldo Franco fez de Meira Pires um místico.
PALCO
LUTA – Para alguns petistas próximos, a governadora Fátima Bezerra vai intensificar suas viagens ao interior para fazer a entrega pessoal das obras do governo. A luta é reduzir o desgaste das avaliações.
PCC – A Policia Federal, segundo a Folha de S. Paulo, investiga a presença do crime organizado nas redes de postos de combustíveis em 22 estados. Suspeita que é maior e mais forte do que se imagina.
QUADRO – Pelo levantamento publicado nos 22 estados, o Rio Grande do Norte figura com 88 postos e na quinta posição. Depois de S. Paulo (290), Goiás (163), Rio de Janeiro (143) e Bahia (103).
INFIEL – No levantamento publicado pela Folha de São Paulo, o União Brasil é o partido mais infiel na relação com Lula, mesmo tendo três ministros. Seguido do Partido Progressista e Republicanos.
AGENDA – Segunda, 26, Marcos José Vasconcelos lança seu livro “Estratégias Argumentativas na construção de uma sentença trabalhista”. Autógrafos começam às 19h, Galeria Fernando Chiriboga.
HISTÓRIA – Nesta Quinta Cultural o depoimento de uma matriarca da Estônia que sobreviveu às duas guerras mundiais. Com uma apresentação de Ormuz Simonetti e Tiago Lajus. Começa às 17h.
POESIA – De Mário Quintana certamente com pena dos ansiosos, esses os sôfregos que procuram a glória em toda parte, a qualquer preço assim “Tão bom viver dia a dia… / A vida assim, jamais cansa.”.
NADA – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, irônico com os tipos que sabem fazer tudo: “O faz tudo é um alto especialista em coisa nenhuma, um senhor do mais ou menos em tudo”.
CAMARIM
BRILHO – “Estreia literária impressionante, uma força estrondosa”. Foi com esse elogio que a ‘Electric Literature’, a revista literária norte-americana, classificou o romance ‘Horas Azuis’, de uma natalense que desde o curso superior reside nos EUA e recebeu o maior prêmio como tradutora daquele país.
QUEM – Natalense de 1991, Bruna Dantas Lobato vive nos EUA, onde cursou a Universidade de Nova Iorque, depois de concluir em Natal a Escola Técnica. É mestra em Criação Literária e titular na Grinnell College. É tradutora e recebeu quatro prêmios, entre eles o National Book Award de 2023.
AZUIS – Seu romance ‘Horas Azuis’, lançado nos EUA e Inglaterra, acaba de sair no Brasil pela Companhia das Letras. É biográfico. É a história de uma estudante que todas as noites conversa com a sua mãe pelo computador, separadas por um hemisfério. Cada uma vivendo a sua própria solidão.
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