Evento celebra Dia do Aviador e relembra primeira mulher do RN a voar
Jessyanne Bezerra
Repórter
O aeródromo Severino Lopes, em São José de Mipibu, na Grande Natal, celebrou neste sábado (26) o Dia do Aviador. No evento, ex-comandantes, pilotos, amantes da aviação e figuras históricas são lembradas pela realização do sonho de voar. Entre elas, Lucy Garcia Maia, a primeira mulher norte-rio-grandense a alcançar os céus.
Marcos Fernandes Lopes, engenheiro agrônomo e apaixonado por aviação, conta que o evento marca a memória de personagens como Severino Lopes, Juvenal Lamartine, Augusto Severo, Lucy Garcia e entre outros. “A reunião desse evento é para aproveitar a semana do Aviador, que é o dia 23 de outubro, que foi criado depois que Santos Dumont levantou voo na França em 1906, o dia do Aviador. Como não estamos no dia, estamos fazendo a semana do Aviador”, explica Marcos.
Vera Lúcia Vilar Garcia de Arruda Câmara, sobrinha de Lucy Garcia Maia, primeira mulher potiguar a tirar o brevê de aviação e voar, conta que a tia se sentia livre no ar, voando sobre as praias e realizando manobras audaciosas, sempre apoiada pelo avô, mesmo em meio às preocupações familiares. “Mulher na frente do tempo dela, quando as mulheres não remavam, não jogavam tênis, não jogavam bola e basquete, muito menos pensavam em voar, que tia já estava além do tempo dela e vovô deu todo apoio. […] Ela se sentia solta, achava que o mundo era dela. Voava por cima da praia da Redinha, que os avós tinham uma casa lá, e ela tirava a ria santa no telhado. […] E nós, junto com os colegas aviadores, viu acontecer desastres com dois grandes amigos dela, da época […] e assim ela continuou. Quando casou, que ficou grávida do primeiro filho […] disse: ‘Agora vou tomar juízo e vou deixar de voar.’”, relembra Vera Lúcia.
Sobre o legado da tia, Vera Lúcia ressalta a coragem e determinação de Lucy Garcia e os feitos conquistados de viver sem medo. “As gerações futuras têm que saber que existia uma mulher corajosa. Na época da guerra, ela voava. Ela não parou de voar. Entre 1943 e 1945, ela foi muito. Ela era totalmente estuda, não devia nada e queria ser livre. […] A importância de lembrar da memória dela, de trazer ela como essa figura importante na aviação e também para a força de mulheres. […] Cada um tem que alcançar o seu objetivo, mesmo que tenha sido só por uma época de vez, mas ninguém deixa tentar fazer aquilo que tem vontade.”, descreve a sobrinha da aviadora.
Sobre o aeródromo, Lopes ainda conta que o projeto teve início em 2002, quando Waldonys, conhecido compositor e sanfoneiro, foi convidado para participar de sua inauguração do Museu do Vaqueiro. Na ocasião, ele sugeriu contatar o comandante Rochinha, piloto do Rio de Janeiro, devido à sua própria falta de aeronave na época, tendo apenas um giroscópio e o desejo de aprimorar suas habilidades. A partir desse encontro, surgiu a ideia de construir uma pista de aviação no local, voltada para atividades esportivas. Em 2003, após estudos de viabilidade, a pista foi registrada e homologada pelo Departamento de Aviação Civil (DAC) como uma homenagem ao pai do idealizador do projeto, que havia falecido em novembro de 2002 e tinha uma forte ligação com a aviação, tendo sido presidente do Aeroclube.
Em uma área que antes era apenas grama e mato, Waldonys e o Marcos Lopes vislumbraram o potencial de criar uma pista de pouso, que começou de forma simples e foi gradualmente se transformando no complexo que é hoje. O músico destacou o equilíbrio entre o antigo e o novo presente no aeródromo e parabenizou todos os envolvidos no projeto pela contribuição ao setor aéreo e à região.
“Eu digo sem medo de errar que uma das maiores conquistas da raça humana, da capacidade de voar, fez com que o mundo nos ache. Então, aqui, numa data super representativa para os aviadores, nós aviadores, e recebendo essa homenagem aqui do aeródromo Severino Lopes, eu fico muito honrado, porque um equipamento como esse traz muitos benefícios para a região inteira”, ressaltou Waldonys.
O evento também reuniu turistas entusiastas pela aviação. Jackson Farias Braga, natural de Recife, compartilhou sua paixão pela aviação durante o evento em homenagem a figuras pioneiras. “Eu sou piloto por hobby. Tirei meu brevê em 1988. Passei um tempo sem voar porque tinha obrigações mais prementes. e deixei de lado a aviação. Agora que eu estou com mais tempo e mais folgado, aí eu voltei, voltei com gosto. A minha vinda à Natal foi para participar deste evento em homenagem a algumas figuras pioneiras da região”, descreveu Braga.