Geométricas – Tribuna do Norte

Geométricas – Tribuna do Norte
Publicado em 18/07/2024 às 4:00

Dácio Galvão
Mestre em Literatura Comparada, doutor em Literatura e Memória Cultural/UFRN e secretário de Cultura de Natal

Estimular procedimentos é o interesse do poema visual. Palavra de ordem na visualidade de Falves Silva. Os elementos -sete quadrados, cinco círculos, um retângulo e dois espaços internos vazios- no todo ou em parte se estruturam. Criando imagens. Dinâmicas geométricas. Cuja direção de leitura se apresenta livre. Acionando códigos -se o leitor desejar- novos desenvolvimentos. Olhos abertos. Geometrias gerando desdobramentos. Alteridades de espaços e volumes. Inerentes ao estatuto do poema-processo. Movimento do qual Silva foi militante. Explorando formas sobre formas. Exercícios e estudos para as retinas. O preto e branco alternando volumes. Vazando-os. Chapando-os na ótica de movimentos diversos. Retângulo, o quadrado e a circunferência. Elementos básicos pulsando. Falves opta pela disponibilização gráfica-vertical. Os distribuindo no branco da página. Deslocando espaços: retângulo contendo os quadrados vazados. E estes os círculos pretos chapados.

Se constata: na comunicação visual do cartaz -comemoração dos 50 anos da Bauhaus criação de Herbert Bayer- estavam presentes elementos básicos: quadrado, triângulo e circunferência. Idem em “O Quadrado Negro” tela de Kazimir Malevich! Não a mimetização de objetos naturais. Luís Ângelo Pinto em pesquisas semióticas -1960- criou poema concreto formado por dez círculos. Dez quadrados reticulados. A chave léxica trazendo a seguinte equivalência: o quadrado = a terra. O círculo = o homem.

A construtividade de FS inclui preocupações estéticas identificadas nas conquistas das vanguardas plásticas de De Stijl de Mondrian e Van Doesburg. Suprematismo de Kazimir Malevich. Do Grupo Frente com Ivan Serpa, Abraham Palatnik e Aluísio Carvão. Criatividades de Lygia Clark e Franz Weissmann. E, na obra de Wlademir Dias-Pino. Experiências do século XX, desaguadas no XXI desafiando novas pesquisas formais.

Essa poética de Falves -sem título- fora editado na Revista Ponto 2, 1968. Coletânea de poemas-processos. Em caixa retangular. Portfólio artesanal. Sem sofisticação na arte final. Apresentando o crédito: “Este caderno faz parte do plano cultural da Fundação José Augusto”, instituição governamental de gerenciamento da cultura do RN. Em diagramação diferente. Sem o retângulo presente na versão que ora analisamos. Que é a do livro do ensaísta e poeta Álvaro de Sá: “Vanguarda: produto de comunicação” (1997, p. 53). Dias-Pino conceituando sobre gradações criativas de formas, escreveria: “a memória inteligente; geometrizada”!

Falves Silva o operário gráfico. Artista multimídia. Leitor de James Joyce, é poeta de ofício. Artista integral. Editor -com Venâncio Pinheiro, Dácio Galvão- a “Criação: uma revista vanguarda”. Seus desenhos eróticos e bricolagens estão fortemente influenciados pela pop-art. Importante lermos a obra de FS. Conceituada por galerias de arte do Sudeste. Lembrando que Caetano Veloso celebrou K. Malevich no cenário do seu show Abraçaço.

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