Leite materno protege o bebê de infecções; conheça mitos e verdades sobre amamentação
A vida de um bebê está diretamente ligada à amamentação, pela qual ele não apenas se alimenta, mas ganha proteção e é estimulado fisicamente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a amamentação como uma das formas mais eficazes de garantir saúde ao longo de toda a infância.
Ainda assim, dados do órgão apontam que menos de 50% das crianças com menos de seis meses de vida são exclusivamente amamentadas. A Semana Mundial da Amamentação, que dura até o próximo dia 7, tem como objetivo dar visibilidade à questão e ampliar esse número.
Veja abaixo alguns dos principais mitos e verdades sobre o assunto:
1 – Existe leite fraco
Mito. “Mesmo que a mãe esteja desnutrida, ela consegue alimentar o bebê”, crava Mônica Carceles Fráguas, neonatologista do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista. A especialista afirma que um bebê que ganha pouco peso pode, na verdade, não estar conseguindo sugar corretamente o leite. Do mesmo modo, não existe “leite forte”: mesmo que o bebê esteja gordinho, os pais não devem limitar as mamadas.
A pediatra Michelle Marchi de Medeiros, coordenadora da Maternidade do Vera Cruz Hospital, em Campinas, acrescenta que o corpo da gestante se encarrega de enviar todo o necessário para a criança. “As pessoas acreditam que, pelo leite materno ter uma cor e densidade diferentes, por exemplo, das do leite de vaca, ele seja mais fraco, o que não é verdade. O leite da mãe tem todas as propriedades na quantidade adequada que o bebê precisa para se desenvolver de maneira saudável.”
2 – O leite materno combate infecções
Verdade. “O leite materno é rico em anticorpos, possui glóbulos brancos e enzimas protetoras que defendem o organismo de infecções e na recuperação de doenças, protegendo o bebê contra várias patologias da infância, tais como diarreias, alergias, infecções respiratórias e otites”, diz Medeiros.
3 – Amamentar reduz a imunidade da mãe
Mito. Muitos pais associam essa troca de anticorpos a uma redução nas defesa da mãe, mas os especialistas afirmam que isso não acontece. “Ela passa anticorpos para o bebê, mas não perde os anticorpos de que precisa”, afirma a neonatologista.
4 – Quando a mãe come chocolate ou feijão o bebê tem cólica
Depende. Não há comprovação de que um alimento ingerido pela mãe cause desconforto no bebê. Silvia Regina Piza, médica presidente da comissão de aleitamento materno da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), ressalta, porém, que alimentos alergênicos podem provocar desconforto no recém-nascido.
“Nesse caso, a criança pode ter alguma reação, mas não exatamente a chocolate e feijão. Caso a pessoa que amamenta coma marisco em grade quantidade, por exemplo, as proteínas e complexos que se formam depois da digestão podem, eventualmente, produzir reações que sejam levadas ao bebê.”
Além disso, o que faz mal a um bebê pode não fazer a outro, e a possível reação alérgica da mãe também não é garantia de que o filho seja alérgico. No geral, caso o bebê apresente desconforto, a mãe pode remover aquele alimento de seu cardápio por um dia e testar se há melhora.
5 – Cerveja preta, canjica e mingau de milho ajudam na produção de leite
Mito. “A alimentação é importante para manter a mãe saudável e compartilhar isso com o bebê, mas não existe nenhum trabalho científico que associe algum alimento ao aumento da produção de leite materno”, enfatiza Medeiros. Em relação à cerveja, a médica é ainda mais taxativa: “Bebidas alcoólicas em geral são contraindicadas durante o período de amamentação”.
6 – Mães devem beber mais água
Depende. Afirmação em si não está correta, mas a pessoa que amamenta tende a sentir mais sede. “A necessidade de ingestão hídrica durante a lactação é uma necessidade fisiológica, porque existe uma perda de água pelo leite. Além disso, o consumo de líquidos é importante para uma alimentação saudável, mas não precisa ser tão acima do normal”, tranquiliza a representante da Febrasgo.
7 – Quanto mais o bebê mama, mais leite a mãe produz
Verdade. “Logo após dar à luz, a produção de leite é menor, cerca de 100 ml por dia. Porém, após o quarto dia, a mãe produz em média 600 ml de leite por dia. Conforme mãe e bebê vão se adaptando, o volume produzido varia, dependendo da necessidade de cada bebê, do quanto a criança mama e da frequência de mamadas”, explana Medeiros.
Aumentar a frequência de mamadas é recomendado sobretudo para bebês hipotônicos, ou seja, cujo tônus ou força muscular é diminuída, como aqueles com síndrome de Down ou prematuros. Outra medida incentivada nesses casos é a promoção do contato pele-a-pele com a mãe, que estimula o bebê e faz com que ele procure mais vezes a mama.
Caso “sobre” leite, a mãe pode congelar e/ou doar ao banco de leite mais próximo.
8 – Se for congelado, o leite pode ser usado até um mês após a extração
Mito. Especialista em amamentação do Hospital Israelita Albert Einstein, Natália Turano ensina que o leite materno pode ser congelado para ser usado em até 15 dias, segundo as normas da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano. Para isso, é necessário que ele seja retirado com um coletor limpo e seja guardado em potes de vidro com tampa de plástico.
Caso seja armazenado na geladeira e não no congelador, o líquido mantém suas propriedades nas primeiras 12 horas. Após isso, ele deve ser descartado.
9 – O bebê deve mamar a cada três horas
Depende. “Não existe uma regra precisa sobre periodicidade da amamentação. Devemos sempre respeitar a demanda do bebê”, diz Turano.
Apesar disso, a neonatologista da Pro Matre acrescenta que, na primeira semana, pode ser necessário determinar os intervalos devido ao neném ainda não entender a própria fome. “Ele fica muito sonolento e pode acabar dormindo demais, acordando apenas quando já tem muita fome e está mais estressado”, aponta.
Conforme o tempo de vida aumenta, o bebê vai entendendo sua fome e criando a própria rotina de amamentação. A partir disso, o acesso ao leite deve ser livre.
10 – A mãe deve oferecer um seio a cada mamada
Mito. “A gente vai oferecer o seio de acordo com a demanda do bebê: tem momento que ele mama em um só seio e fica super bem alimentado, outra hora ele pode necessitar dos dois para estar saciado. A oferta vai depender sempre da demanda do bebê”, orienta a especialista em aleitamento.
11 – Mama pequena produz pouco leite
Mito. “O estágio de desenvolvimento das mamas começa na vida embrionária daquela mulher. No pós-parto, a mama aumenta de volume e tem um incremento vascular de retenção de líquidos, que não estão relacionados ao volume anterior”, explica a representante da Febrasgo.
O que pode alterar a produção do leite são cirurgias prévias nas mamas, seja para colocar ou retirar silicone, ou por outros motivos. “Algumas técnicas de cirurgia plástica podem prejudicar o aleitamento, caso seja retirado tecido mamário, como os lóbulos e os alvéolos mamários. Se a cirurgia ou a prótese for colocada sem mexer nesses tecidos, não há empecilho”.
12 – Chupeta e mamadeira atrapalham a amamentação
Verdade. A diferença entre o seio, a chupeta e a mamadeira pode causar o que Silvia Piza chama de “confusão de bicos”. “Na chupeta, o bebê usa o mecanismo de sucção para nada. Na mamadeira, é como se ele comesse uma feijoada, uma digestão pesada que não estimula a sucção. Então ambos atrapalham completamente.”
14 – Amamentar emagrece
Depende. “O corpo gasta cerca de 700 calorias por dia para conseguir amamentar, então, se a pessoa que amamenta estiver mantendo uma dieta rica e balanceada, ela consegue voltar ao peso normal de forma mais rápida. Mas não é desculpa para comer mais, que não irá adiantar “, diz a especialista em amamentação.
15 – A mãe pode amamentar um filho estando grávida de outro
Verdade. Os estudos mais recentes apontam que não existe risco de parto prematuro ou complicações na gestação caso a mãe já esteja amamentando. É recomendado apenas que a prática seja evitada em caso de gravidez de risco por outros fatores.
Fráguas acrescenta que, caso a criança mais velha siga mamando, provavelmente ela mesma desista por conta das mudanças no leite, que voltará à forma de colostro. “Se isso não acontecer, depois que o bebê nascer os dois podem mamar. A pessoa que amamenta precisa dar a mama primeiro ao pequeno, para garantir que tenha leite suficiente para este, e depois ao mais velho”, destaca.
Dificuldades
Algumas mães sentem um leve desconforto no início da amamentação, principalmente nos primeiros dias pós-parto — quando tanto a genitora está aprendendo a amamentar quanto o recém-nascido está aprendendo a sugar. “Uma dica que ajuda muito é a mãe massagear a mama antes do ato, especialmente próximo ao mamilo, para relaxar aquela área e permitir a saída do leite de forma mais simples”, sugere Turano.
Caso a mama esteja ferida, o ideal é passar um pouco do próprio leite para ajudar na cicatrização. “Se houver uma lesão mais avançada, é necessário buscar ajuda profissional. Mas não se deve usar pomadas, que atrapalham o bebê, nem banho de sol, que não tem eficácia comprovada”, continua.
Ela ressalta ainda que amamentar é uma maneira de demonstrar carinho, mas não é a única. “Algumas mulheres não conseguem ou não querem amamentar e ainda assim são ótimas mães para os seus filhos.”
Estadão
13 – Amamentar causa queda de cabelo
Mito. Não é a amamentação que causa queda de cabelo e sim os hormônios pós-parto. “Na fase da amamentação, existe uma inversão hormonal no corpo da mulher, como se ela estivesse entrando no climatério. Alguns hormônios ficam mais baixos, outros mais altos, e isso não costuma favorecer a hidratação da pele, cabelo, unha e até íntimo”, explica a representante da Febrasgo.