MPE pede que caso sobre morte de agricultores seja enviado ao Procurador Geral da República

MPE pede que caso sobre morte de agricultores seja enviado ao Procurador Geral da República
Publicado em 23/07/2024 às 22:45

As vítimas Jânio Bonfim e Flavia Guilarducci — Foto: Arquivo Pessoal

Em uma nova etapa da investigação sobre o assassinato dos agricultores Flávia Guilarducci de Souza, de 50 anos, e Jânio Bonfim de Souza, de 57 anos, o Ministério Público do Estado de Roraima (MPE-RR) solicitou que o caso seja enviado ao Procurador-Geral da República. O pedido foi feito após um novo depoimento citar o governador de Roraima, Antonio Denarium.

Durante o interrogatório prestado à polícia, Helton John da Silva, capitão da Polícia Militar e um dos investigados, mencionou supostos acontecimentos posteriores ao assassinato, envolvendo autoridades com prerrogativa de foro. Segundo Helton, após o crime, ele contatou o Comandante-Geral da Polícia Militar e foi instruído a trocar de celular e aguardar as investigações.

Helton também afirmou que Tiago Porto, irmão de outro investigado, Caio Porto, foi ao Palácio Senador Hélio Campos conversar com o governador Antonio Denarium. No depoimento, Helton relatou que Denarium teria solicitado à Delegada Geral da Polícia Civil que o caso fosse resolvido diretamente com Tiago.

Com base nesse depoimento, o MPE-RR pediu uma nova apuração, pois a conduta do Comandante-Geral, conforme descrito, pode constituir infração penal. Devido à menção ao governador Denarium, o MPE-RR apontou que somente o Procurador-Geral da República tem competência para instaurar um inquérito ou arquivar o caso.

Para evitar prejuízo à investigação, o MPE-RR encaminhou o caso ao Tribunal do Júri em relação aos outros investigados: Genivaldo Lopes Viana, Luiz Lucas Raposo da Silva e Johnny de Almeida Rodrigues, que estão em liberdade com medidas cautelares, e Caio de Medeiros Porto e Deyvis Jesus Mundarain, que estão foragidos.

Relembre o Caso

Flávia Guilarducci de Souza e Jânio Bonfim de Souza foram mortos no dia 23 de maio, na Vicinal do Surrão, no município do Cantá. Jânio morreu no dia do crime e Flávia faleceu no dia 28, após seis dias na UTI. Os corpos foram levados para Goiás, terra natal das vítimas. A mulher foi atingida na cabeça e o homem na boca e abdômen.

As vítimas tiveram a casa invadida por homens que atiraram contra elas na manhã do dia 23. Socorridos por uma testemunha, foram levados ao Hospital Geral de Roraima. A testemunha relatou também ter sido ameaçada pelos suspeitos.

Antecedente

Um dia antes do assassinato, o casal registrou um boletim de ocorrência na delegacia da Polícia Civil de Cantá, relatando ameaças do vizinho, o empresário Caio de Medeiros Porto, de 32 anos. Em 2019, Caio foi citado na “lista suja” do trabalho escravo da Secretaria Nacional de Inspeção do Trabalho.

No mesmo dia, o vizinho do casal esteve na propriedade para verificar um local para plantar feijão, conforme combinado com Jânio. Segundo depoimento à Polícia Civil, Caio chegou ao local acompanhado dos outros suspeitos, apontando uma pistola .380 e perguntando sobre o proprietário das terras. A testemunha, para evitar confusão, disse que não conhecia o proprietário.

Na noite do mesmo dia, a testemunha retornou à propriedade e Jânio relatou ter registrado um boletim de ocorrência devido às ameaças de Caio e dos outros suspeitos, mesmo tendo documentação das terras. No dia seguinte, Jânio e Flávia foram baleados.

Um áudio da conversa dos suspeitos com o casal foi gravado pelas vítimas. Jânio relatou à testemunha, antes de morrer, que quatro homens chegaram em uma caminhonete Chevrolet S10 branca em sua propriedade. A mulher, baleada na cabeça, faleceu uma semana depois.