“O ponto fulcral” – Tribuna do Norte

“O ponto fulcral” – Tribuna do Norte
Publicado em 03/12/2024 às 1:13

Vicente Serejo
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Não foi de um cientista político. Ou mesmo de um grande sociólogo. A análise que talvez tenha atingido aquela expressão antipática de alguns teóricos quando citam o “ponto fulcral” de uma questão – a percepção aguda com propriedade assertiva. Foi de um jornalista, Marcos Augusto Gonçalves, editor do caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo. Para ele, o golpismo pode não ter um desfecho forte e com prisões, mas revelou a urgência de afastar as forças armadas da política.

Ancorou a tese numa pedra angular e determinante para se entender que as forças armadas são, em essência, detentoras de carreiras de estado, impedidas, constitucionalmente, do papel ilegal de garantir movimentos golpistas contra governos que imaginam não ser do seu agrado ou interesse como classe. Aos militares, mantidos pelo Estado, cabe, no Brasil, e se convocados por qualquer dos três poderes, a garantia do estado democrático de direito, fruto legítimo do voto livre e popular.

Foi nessa direção que ergueu sua análise para demonstrar que o episódio, independente do seu desfecho e encerradas as investigações, mostra ser indispensável “a necessidade de um cordão de isolamento entre a política e os militares”. Queiram ou não os mais sectários, o episódio revela, antes de tudo, que a tentativa de golpe nasceu do ex-presidente Jair Biolsonaro “filhote dos porões da ditadura militar, discípulo e admirador de Carlos Brilhante Ustra e da facção de torturadores”.

Não bastasse as explosões diante da sede da Polícia Federal e, dias depois, do episódio dantesco do quebra-quebra dos três palácios dos poderes republicanos – foram muitíssimos mais graves do que os militares caracterizavam de subversivos, quando justificaram prisões, torturas e mortes ao longo da ditadura militar. Defender a anistia geral e irrestrita é ferir os princípios mais básicos e republicanos de proteção do Estado e da Nação contra os inimigos da própria democracia.

Não vale a falsa eloquência em nome da reconciliação nacional. Foram eles, os desvairados do desrespeito à democracia que o povo brasileiro reconquistou, das suas mais altas elites políticas, econômicas e culturais aos mais humildes cidadãs e cidadãos, os praticantes do crime hediondo contra a lei e a ordem. Se há casos leves, como citou o ministro da defesa, José Múcio Monteiro, que se apure rigorosamente, como forma de punir, com o mesmo rigor, financiadores e capatazes.

Marcos Augusto Gonçalves, no fecho da sua análise dura e certeira, acusa: “A conspiração dos nostálgicos dos porões que arrastou beócios extremistas”. E depois: “O complô, que incluía até planos de assassinatos de autoridades, não contava com a maioria da cúpula militar”. Para ele, é preciso isolar as forças armadas da política: “E revisar na Carta o artigo 142, que só fomenta pretensões fantasiosas na caserna”. Ora, sem o respeito à Constituição não há salvação. É o caos.

PALCO

PODER – A sucessão, em 2026, será travada pelos dois partidos que hoje congregam as maiores forças políticas no Rio Grande do Norte: PL e União Brasil. Aliados a Lula, mas adversários aqui.

MORDAÇA – O Partido Liberal vai lutar com a coerência de fazer oposição ao governo do PT, no RN e em Brasília. O União Brasil vai lutar amordaçado: tem dois ministros no governo de Lula.

FORA – Os sebistas ficariam, sim, de fora da feirinha da Árvore de Natal, em Mirassol, como esta coluna informou. O gesto de grandeza foi do deputado Adjuto Dias, apoiando os nossos livreiros.

COMO – O registro foi solicitado por alguns sebistas e o colunista encaminhou o apelo através de um bom assessor do prefeito Álvaro Dias, mas chegou a ser negado. Informado, Adjuto corrigiu.

ALIÁS – Ficou feio para a UERN o espaço que destinou aos sebistas no seu campus. É tanto que alguns deles desistiram da participação e chegaram a manifestar em entrevistas nas redes sociais.

LOBO – Sábado, das 9h até meio-dia, Jair Eloi de Souza lança no Sebo Vermelho mais um livro sobre o Rei do Cangaço: “Lampião, o Lobo do Sertão”. O sertão de antanho e a sua história épica.

AVISO – A Biblioteca Câmara Cascudo voltou fechar as suas portas, mas, agora, por apenas uma semana, segundo informa o governo. Para realizar obras de manutenção. Tomara que seja verdade.

SERVIÇO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, sobre as almas serviçais, quando calam, mesmo diante do absurdo: “Quem serve sem precisar servir, e o faz por vício, é conivente”.

CAMARIM

GARRANCHO – A Fundação José Augusto e o Departamento Estadual de Imprensa lançam, dia 12, na Pinacoteca do Estado, no Palácio Potengi, a terceira edição do livro “O Sindicato do Garrancho”, da professora Brasília Carlos Ferreira. É a história das lutas nas salinas de Mossoró.

BANGU – Bem que a mesma união de forças poderia ser formada para fazer uma nova edição de ‘Bangu’ – ‘Memórias de um Retirante’, também organizado pela professora Brasília Ferreira já em segunda e definitiva edição pela UFRN, em 2018. Um livro já praticamente esgotado desde 2018.

SAGA – Lauro Reginaldo da Rocha, ‘Bangu’, é mossoroense, operário, sindicalista e militante que aos 24 anos assumiu a secretaria geral do PCB. Vítima de várias prisões políticas, é símbolo da resistência. Suas memórias, publicadas postumamente, é a própria história do sindicalismo no RN.

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