Política

Obras no Porto de Natal podem elevar turismo de cruzeiros em 25 vezes

Obras no Porto de Natal podem elevar turismo de cruzeiros em 25 vezes
Publicado em 13/04/2025 às 4:18

Ícaro Carvalho
Repórter

Uma das principais forças da economia potiguar, o turismo ainda carece de melhorias em áreas específicas visando expandir e utilizar plenamente o seu potencial. Nesse sentido, um dos segmentos turísticos que pode ser potencializado em grandes proporções é o de cruzeiros, mercado que passou por constantes transformações no Brasil e no mundo nos últimos anos. Um estudo inédito feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RN) mostrou que essa área turística no Estado, por meio do Porto de Natal, pode sair dos atuais R$ 3,5 milhões de impacto econômico para R$ 89,5 milhões. O quantitativo de passageiros, que foi de 2.539 em 2023, poderia chegar a 63 mil, segundo o estudo. Para se chegar nesses quantitativos, no entanto, “muita água precisa correr por debaixo da ponte” como diz o ditado popular. Isso porque obras estruturantes, estratégias de captação e parcerias comerciais precisariam ser feitas para potencializar ainda mais este mercado.

Os números constam no estudo “Mercado e Impacto Econômico de Cruzeiros em Natal”, feito pelo Sebrae-RN a pedido da Companhia Docas do RN (Codern) e Secretaria de Estado do Turismo (Setur-RN), divulgado nesta semana. Segundo os dados do mapeamento, Natal está atrás no fluxo de passageiros em comparação aos portos de Recife e Maceió, por exemplo. Neste último caso, a capital alagoana recebeu 99.446 cruzeiristas em 2023, com impacto econômico total de R$ 140 milhões. Recife, por sua vez, recebeu 27.287 cruzeiristas e movimentou R$ 38,4 milhões.

Para se chegar nesses números, foi feito um diagnóstico de 50 embarcações que chegam no Brasil em rotas já conhecidas. Destas, 14 delas já atracaram ou estão programadas para atracar na capital em 2025/2026, demonstrando que o destino já faz parte de algumas rotas de cruzeiros. Além disso, 20 dessas embarcações operam no Nordeste brasileiro, o que representa oportunidade estratégica para ampliar a captação de novas escalas para Natal, fortalecendo sua posição no mercado de turismo marítimo.

Além disso, o turismo de cruzeiros tem suas particularidades e especificidades, como por exemplo a limitação de atrativos e o tempo disponível para a realização de atividades turísticas, ficando limitada a 6 horas, em alguns casos. Entre os atrativos indicados estariam passeio nas dunas e city tour pelo Centro Histórico de Natal.

“Essas 14 embarcações vieram de uma maneira espontânea, não tivemos trabalho de prospecção ativa desde que veio a pandemia, desde que perdemos a rota que era nossa principal em 2013, que era Fernando de Noronha, por questões ambientais. Nossa rota acabou sendo perdida e depois da pandemia houve uma queda de viagens de cruzeiros dentro desse panorama nacional. Agora ele está voltando e com uma força muito grande. Estamos vindo de um período de pós-pandemia e estamos agora retomando o que perdemos baseando no que gostaríamos de trazer para o nosso Estado”, explica Ana Raquel Pena, coordenadora do estudo e consultora de mercado credenciada do Sebrae-RN.

Além disso, o estudo também fez entrevistas com oito instituições/associações do turismo local, além de agências de receptivos do Estado. Foram feitas perguntas como “Quais os principais atrativos turísticos para o turista que chega de cruzeiros em Natal/RN considerando suas limitações?”, “Qual o potencial para o turismo de cruzeiro em Natal/RN?”, entre outras.

“Um dos grandes fatores da nossa pesquisa foi justamente aproveitar esse momento para identificar nosso posicionamento futuro em função dos cruzeiros, respeitando nossa capacidade de infraestrutura atual, no mercado potencial e de como essa movimentação hoje mundial e das tendências e oportunidades que os cruzeiros estão trazendo no setor do turismo”, acrescenta a pesquisadora.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou a Secretaria de Estado do Turismo para repercutir o estudo. A pasta enviou a seguinte nota. “Os primeiros resultados do estudo foram apresentados inicialmente à Codern, e posteriormente ao Conselho Estadual de Turismo – Conetur, reforçando o compromisso da Setur e do Sebrae em fomentar ações que ampliem a competitividade e atratividade do destino Rio Grande do Norte no cenário nacional e internacional. O detalhamento completo do estudo será apresentado em reunião técnica entre a Setur e o Sebrae nos próximos dias, quando serão discutidas as próximas etapas e possíveis desdobramentos das propostas levantadas”.

Potencial
O diagnóstico aponta, por exemplo, que apesar da baixa performance atual, o Porto de Natal possui “grande potencial a ser explorado”. Entre as perspectivas estariam a realização de reformas e aumento da capacidade operacional do terminal, que poderia aumentar em 25x o valor atual. Essa reforma, por exemplo, consistiria numa dragagem a ser feita no Rio Potengi, que seria uma nova bacia de evolução para o fundeio de navios de cruzeiro. A área selecionada para essa infraestrutura está situada na margem direita do Rio Potengi, entre a Ponte Newton Navarro e o Farol Recife de Natal. Essa dragagem citada no estudo é diferente da que é alvo de licitação para 2025.

Restrição histórica desse tipo de turismo em Natal, a altura da Ponte Newton Navarro deixaria de ser um empecilho. Isso porque, com essa nova bacia de evolução, os navios atracariam antes da ponte, com os cruzeiristas desembarcando em terra por meio de embarcações menores. Além disso, o comprimento máximo permitido para recepção de embarcações seria ampliado para 300 metros.

“Se eu tenho um limite na ponte para que os cruzeiros aportem aqui, a solução foi termos uma área de fundeio antes da ponte. Fizemos a batimetria e constatamos um volume de 900 mil m³ de remoção para que ali tenhamos um calado a 10m e atenda exatamente os cruzeiros.

O cruzeiro não aportaria direto no Porto, ficaria antes da Ponte e os turistas iriam de barco, indo num transfer. Esse tipo de operação é feita em Búzios, Ilhabela, Camboriú, ou seja, é bem recebida pelo mercado. Não é nenhum gargalo”, explica o diretor-presidente da Codern, Paulo Henrique de Macedo, acrescentando ainda que existe uma ideia de se criar uma rota de cruzeiros na costa Nordeste para atrair os turistas.

O diretor-presidente da Codern acrescenta ainda que já estão sendo feitos estudos e diagnósticos acerca dessas questões, com o intuito de viabilizar recursos junto ao Governo Federal. “Pedimos ao Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias uma solução operacional para que pudéssemos receber grandes cruzeiros. Fizemos a batimetria e entregamos para o INPH, e a Codern começa a elaborar uma solução operacional para que saibamos quanto vai custar receber grandes cruzeiros. Não adianta visualizarmos um potencial de um setor sem que possa efetivamente mensurar isso em números e poder projetar. Para o Governo do Estado fazer esse estudo, ele precisava de uma solução a médio prazo”, acrescenta.

Captação e divulgação do destino

Além das obras para ampliação do Porto de Natal e de sua infraestrutura ao redor, o estudo sugere um trabalho integrado de captação desses navios, além de ações de promoção e divulgação desses destinos. “Temos, com certeza, oportunidades de trabalhar um perfil de embarcações desse nível com a infraestrutura que temos hoje. Esse estudo permite ter essa radiografia do que nós temos hoje e o que está deixando de ser feito, que seria a parte de estratégia de captação de novos navios e embarcações”, explica Ana Raquel Pena.

Segundo George Costa, coordenador da Câmara Empresarial de Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomercio-RN), o turismo de cruzeiros depende de toda uma conjuntura, não apenas de infraestrutura, mas também comercial.

“Os navios de pequeno porte, que é o que temos capacidade de receber, estão se dedicando a um turismo cada vez mais de luxo ou de grandes travessias, que são cruzeiros de 30, 60 dias, em que as pessoas dão a volta ao mundo. Esse tipo de cruzeiro está ficando mais raro no mercado mundial, porque os navios viraram verdadeiras cidades, que são muito grandes e que rendem muito mais dinheiro, porque concentra-se mais pessoas”, explica.

Ainda segundo George, grandes cruzeiros saem de rotas como Rio e São Paulo, mas não acabam passando nem desembarcando por cidades como Natal. “Não temos ainda força econômica e conjunto de cidades que junte Fortaleza, com Natal, João Pessoa e Maceió e consiga sair daqui um cruzeiro de grande porte. Esses de 3, 5 mil, a gente não consegue fazer com que eles venham para o Nordeste neste momento pela questão econômica”, aponta, acrescentando ainda as dificuldades estruturais existentes no Porto.

Outro ponto que pode ser beneficiado com o turismo de cruzeiros é o Terminal Marítimo de Passageiros (TMP Natal), que foi inaugurado em 2014 em função da Copa do Mundo em Natal mas acabou acabou se tornando um equipamento subutilizado com a falta de cruzeiros vindos ao Estado. O espaço custou R$ 72,5 milhões. A Codern estuda fazer mudanças internas para utilização ampla do espaço, além de possibilidade de cessões onerosas com o intuito de ampliar a relação “porto-cidade”.