Pesquisador aponta como família e escola devem combater o bullying
O advento da internet e das redes sociais ampliaram a prática do bullying, que se caracteriza por atos de agressão e intimidação repetitivos, criando até uma nova denominação, o ciberbullying. O assunto preocupa, mas pode ser combatido em força conjunta da família, escola e de toda a sociedade, através do trabalho de prevenção e de conscientização das consequências que esses atos podem trazer. É o que orienta o o doutor em psicologia e professor da Universidade de Valladolid, na Espanha, José Maria Martínez que, nesta segunda-feira (26), ministrou palestra sobre o tema para a comunidade escolar do CEI Romualdo Galvão/Roberto Freire.
Ele explicou que, pela internet, as vítimas tendem a ficar mais indefesas e o alcance do constrangimento é ainda maior. “Porque o faz atrás de uma tela, do anonimato. E, por outro lado, os espectadores também são menos obrigados, na esfera virtual, a emitir uma resposta. É muito diferente contemplar um ataque presencial e diretamente, fisicamente, do que fazê-lo simplesmente em um canal virtual”, avalia Martínez.
Neste sentido, a família tem um papel de intervenção fundamental, assim como a escola e a comunidade. Os pais, por exemplo, ao saberem que algum conhecido do filho sofreu esse tipo de violência, devem se posicionar e deixar claro que é errado. “É, portanto, muito importante que os pais tenham muita clareza sobre a gravidade do fenômeno para que realmente adotem posturas adequadas. Que saibam que o seu silêncio, sua inibição, pode significar um aval”, alerta.
Para tanto, a escola pode ajudar envolvendo alunos e familiares, fazendo uma atuação abrangente e agindo com a prevenção. “Traçando planos de convivência para prevenir o assédio. Criar estruturas, como equipes de ajuda, para que possam ajudar os colegas que estiverem tristes, sem amigos. Portanto, a escola também é ator principal”, destaca José Maria Martínez.
Além disso, a comunidade, especialmente os círculos de amizades, são essenciais porque costumam perceber ou presenciar situações de bulling, agindo também para coibir ou denunciar a prática.
No CEI Romualdo Galvão/Roberto Freire, o envolvimento de toda a comunidade escolar já vem sendo feito, dentro da metodologia de José Maria Martínez. A psicóloga do CEI, Priscila Ayane, explica que é possível reduzir as questões de bullying, de ciberbullying através de um sistema de apoio entre pares. Trata-se de um grupo de alunos que atuam para que a convivência entre todos seja saudável. Prestam ajuda aos colegas, os escutam quando têm problemas e os auxiliam a resolvê-los por meio de estratégias cooperativas, colaborativas e de entendimento. Esses alunos são escolhidos por seus colegas de turma por meio de uma sequência didática conduzida pelos professores de formação ético social em sala de aula.
Numa parceria com a assessoria Conviver Mais, a equipe da escola recebe formação sobre o tema, que também é levado para as famílias, num sistema de apoio entre pares. “A gente vai desenvolvendo protocolos com base no que hoje a literatura traz para entender essa sistematização e essa intervenção que precisa ser feita para entender”, diz a psicóloga.
Criminalização
O pesquisador e psicólogo José Maria Martínez relata que onde foi aplicada a metologia de punir duramente o agressor que pratica bulling, não se resolveu o problema. “Então, eu sempre digo, é melhor estar com o agressor do nosso lado, colaborando na resolução do conflito, do que está do outro lado com essas políticas de punição dura e criminalização”, avalia.
Ele pondera que são casos quando se está lidando com menores, que também precisam de ajuda e de outros modelos para compreender o problema. “Precisa de orientações educativas para gerar comportamentos construtivos, solidários porque, muitos deles, talvez não tenham aprendido outra forma de comportamento, ou sofreu violência”, aponta o pesquisador.
A psicológa da escola, psicóloga do CEI Romualdo Galvão/Roberto Freire, Priscila Ayane, diz que é possível observar que, por trás da agressão, muitas vezes existe um perfil que busca uma afirmação, que tem questões com a autoestima, com a insegurança, que pode ter sido repassado ou ter sido alvo um dia. “Por isso que a gente entende que estudar sobre a temática, a nossa comunidade, os nossos funcionários, a nossa equipe, é importante para que a gente entenda e possa fazer uma intervenção preventiva”, pontua a psicóloga.