Relembranças natalenses – Tribuna do Norte
Woden Madruga
Volto à gaveta dos papéis desarrumados e logo encontro uma carta de Veríssimo de Melo. Fala sobre Geraldo Fontenelle, jornalista e escritor, nascido no Piauí e que viveu boa temporada em Natal (anos 50, começo dos anos 60), mudando depois para Fortaleza onde seguiu carreira, chegando à Academia Cearense de Letras. Trabalhamos juntos na Rádio Poti, ele locutor e ator de novela. Eu, na redação dos “jornais falados”. Ao lado, a saleta de Genar Wanderley. Vamos à carta de Vivi:
“Natal, 15.12.1993.
Velho Woden: meu abraço.
Mando-lhe cópia da carta que acabo de receber de nosso amigo Geraldo Fontenelle, diretor da Rádio Iracema, de Fortaleza – antigo locutor da Rádio Poti.
Ele anda saudoso da nossa terra. Pediu-me a música e letra de PRAIEIRA. Fiz uma fita cassete e enviei. Agora, ele me escreve agradecendo a fita. Vaja que fala com encantamento de vários amigos nossos. Não seria interessante pinçar alguns trechos da carta? Verifique. Abraço amigo do Veríssimo.
PS – Na fita cassete que fiz juntei algumas músicas que fiz com Hianto e outras com letras de Diógenes”.
Segue a carta de Geraldo Fontenelle, escrita em papel timbrado da Academia Cearense de Letras:
“Terra da Luz, 10 de dezembro de 1993
Meu caro Veríssimo:
Ao recordar, em carta anterior, a “Praieira”, jamais imaginaria que você estivesse tão bem municiado. Cuidado. Estou ficando velho. O coração não aguenta mais impacto como o que me proporcionou com a remessa da fita cassete.
“Ali, lembranças contentes/Na alma se representaram;/E minhas cousas ausentes/Se fizeram tão presentes/Como se nunca passaram”(relembrando o lado lírico de Luiz Vaz de Camões)”.
“Praeira” com o Madrigal da UFRN é a aquarela, o hino do Rio Grande do Norte e com o conjunto musical a ‘berceuse’, o acalanto que faz sonhar. O Eduardo Medeiros estava muito inspirado quando fez “Praeira” e a filha Valdira, uma cantora extraordinária que eu não sei se ainda vive. A letra do saudoso Othoniel, nem falar, tão linda é. Essa canção marcou muito a minha vida aí naquele tempo. Escutei-a, graças a você, com a unção devida, como um morto salvo que, agradecido, chega ao Terceiro Céu de que nos fala Paulo n a 2ª Epístola aos Coríntios.
“Royal Cinema” é um valsa inesquecível. É a cara das serestas que fiz nessas ruas encantadoras. Certa vez, o cônsul de Portugal nos abriu as portas e nos cevou de vinhos e queijos até a manhã chegar.
A Glorinha é incrível. Continua com a voz jovialíssima. Nem parece que caminha para um século de idade. Não sabia que Diógenes da Cunha Lima formava com você a dupla mais endiabrada deste Rio Grande do Norte. Gostei muito de todas as faixas, em particular “Encanto da Noite” e “Coisa Boa”. Essa Lucinha Lira é nativa ou importada? Grande intérprete”.
“Caju Nasceu Pra Cachaça” é hoje um clássico da música popular brasileira e ouço muito essa música nas rádios daqui. Eu estava em Natal quando Cauby Peixoto estourou nas paradas de sucesso. É música que está sempre atual, enquanto existir caju e cachaça.Ninguém que morou em Natal consegue esquecê-la. Infelizmente, o destino, já o disse noutra carta, atirou-me aqui em terras de Israel. Que fazer?
Fico por aqui, agora tendo ótima companhia para as noites cearenses – as suas canções e o hinário norte-rio-grandense “Praieira ” e “Royal Cinema”. “Praieira” – terrível e angélica.
Ciao. Do amigo de sempre,
Geraldo Fontenelle.”
Geraldo Fontenelle faleceu em 15 de dezembro de 1996, aos 62 anos.
Em Portugal No meio da semana caiu na minha bacia das almas uma mensagem de Margones Barros, potiguar seridoense, de casa montada em Paris há décadas:
“Caríssimo Woden, graça, paz e bem!
Confesso eu não entendo o que está acontecendo com os nossos irmãos Patrícios, Portugueses. Eu e minha consorte estivemos no final do último mês de junho, na região da Algarve, sul de Portugal.
Fiquei muito triste pelo acolhimento que nos foi reservado! E isso desde a locação do carro, da hospedagem nos hotéis, nos restaurantes, com os transeuntes nas praias, nas ruas, cidades e aldeias. Quando a eles me dirigia no nosso português, tornavam-se frios, secos, desagradáveis, e até mesmo arrogantes!
A minha consorte por ser francesa, que por sinal lhe quer muito bem, vendo o meu estado psicológico afetado pelo desprezo à nós reservado, começou a se expressar na língua de Camões, onde estou décadas atrás, em Lisboa. Daí, então, as coisas mudaram totalmente!!! Tudo voltava ao normal. Bom serviço, bom acolhimento, sorrisos agradáveis, etc…
Aqui fica o meu registro. Vastos caçuás de abraços. Margones Barros.”
Livro Anote em sua agenda: quinta-feira que vem, dia 5, tem o lançamento do “Dicionário Oswaldo Lamartine de Faria”, livro organizado pelo pesquisador Gustavo Sobral. Será no Temis Clube Balcão Bar, sede do América Futebol Clube, começando às 17 horas.
Política Agosto findando com várias pesquisas no rastro da eleição para prefeito de Natal. Em todas a liderança folgada de Carlos Eduardo Alves. Tem esta da Quaest: Carlos Eduardo com 44% das intenções de voto; Paulinho Freire, 15%; Natália Bonavides, 14%; Rafael Mota, 4%; Nando Poeta, 1%.
Carlos Eduardo tem mais votos do que a soma de todos os outros candidatos.
Luís Antônio Perdemos Luís Antônio Felipe, que se encantou no dia 26 de agosto, aos 67 anos. Do time dos melhores jornalistas desta aldeia cascudiana. Começou sua carreira nos birôs desta Tribuna do Norte, chegando a editor de Economia, depois de passar pelas veredas da Política. Um grande camarada.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.