Dácio Galvão
Mestre em Literatura Comparada, doutor em Literatura e Memória Cultural/UFRN e secretário de Cultura de Natal

Quem é Oswaldo Lamartine de Faria? A tese de doutorado de Marize Castro não responde. Projeta no terreno do sensível. O etnógrafo-escritor é descrito em ângulos. Falas textos imagens. Depoimentos do próprio: ascetismo, sertanismo, ostracismo… Castro se estriba em figuras de linguagens na metabiografia. Se apropria da poética. Em Zila Mamede -“Bilhar” e “Oswaldo Lamartine”- e Maria Lúcia Dal Farra -“Jaca”- talhando a vida-obra do autor do livro “Notas de Carregação” editado pelo Projeto Nação Potiguar-2001.

Segue pontuando nos versos de Adriano de Sousa no “Ponta de Faca” e Paulo de Tarso Correia de Melo via Jorge Luís Borges. Estrofes de Moacy Cirne -“O Seridó Somos Nós”- e no retinir de Virgílio Maia no “Martelo Gabinete”. Se arvora no “Mais Belo” em Demétrio Diniz. De soslaio Marcus Accioly., Gilberto Freyre. Alto grau de literariedade. Narrando parataxes a linguagem e a etno-curiosidade de Lamartine.

Vasculha romancistas. Referências e anotações. Vida-viagem ao sertão oswaldiano sem rendição à modernidade. Raquel de Queiroz depõe. Dedicando-o “Memorial de Maria Moura”. José Lins do Rego o referencia no tema cangaço. Ariano Suassuna o ratifica no “Uns Fesceninos”- reedição Fundação Capitania das Artes.

Lamartine é visualidade. Nos seus livros estão os parceiros Percy Lau. Dorian Gray Caldas. Poty Lazzarotto. Ciro Fernandes… Sabia do traço e relevo para compor os escritos. Desenhava esporas. Mourões. Porteiras. Ferros de Ribeiras. De marcar bois. Letras capitulares. Costuras de selas. Gibões… Olhar gráfico apurado.

É possível ler em Marize um Oswaldo atemporal. A movimentação e expressão do narrador do Sertão Seridó. Num mosaico fotobiográfico. Quarenta fotografias! De Candinha Bezerra “O escritor e brasão da família” e o “Poema-autógrafo” de Manuel Bandeira. Da companheira Natércia Campos: no Acari o sertanólogo e bustos. Do avô e do irmão, Otávio. Na Fazenda Ingá. Com Sanderson Negreiros e Zila Mamede. Um anônimo do povo Krahô. Praia Ponta do Morcego, com Suassuna. Alpendre da Fazenda Acauã com Diva Cunha. Há o fragmentário no documentário “Oswaldo Lamartine: o príncipe do sertão”. Depoimentos de João Medeiros Filho, Paulo Bezerra, Vicente Serejo, Edgar Dantas e Dácio Galvão. Imagens do recebimento do título Doutor Honoris Causa-UFRN.

Doc dirigido por Vilma Vitor em colaboração com o professor Humberto Hermenegildo. O epistolar -manuscrito, datilográfico- é suporte na bio-bibliografia: Veríssimo de Melo, LC Cascudo, Helio Galvão -uma única carta-. E os acentos teóricos em Antonio Candido, Umberto Eco, Gaston Bachelard, Jacques Lacan, Walter Benjamin, Ezra Pound… gerando o arcabouço. OL de Faria transferia o mérito da sua produção para mestres de ofícios: Pedro Ourives, seleiro. Zé Lourenço, fazedor de barragens. Chico Julião, caçador de abelhas. Bonato Liberato Dantas, pescador. Olinto Ignácio, rastejador e vaqueiro. Das escutas às textualidades. Rosianas!

Artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor