Uma virada? – Tribuna do Norte

Uma virada? – Tribuna do Norte
Publicado em 20/09/2024 às 7:22

Vicente Serejo
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A fonte desta coluna, pelo visto, estrava certa quando informou que algumas projeções internas do estafe de campanha do candidato Paulinho Freire já admitiam uma possível queda da posição de liderança absoluta do ex-prefeito Carlos Eduardo Alves. Chegou até a usar a mesma expressão que saiu na nota: poderia ‘desabar’ nas pesquisas, a ponto de um segundo turno, duro e imprevisível, ou o que a prática política diz ser uma verdadeira segunda eleição, voto a voto.

Este colunista não tem razão para ser defensor do Instituto Consult. Assim como sabe que jamais seria convidado para ser. Não deseja, não quer e nunca pretendeu ser. O que o cronista não pode, em mais de meio século de jornalismo, é agredir os fatos. Mesmo hoje cercado de uma prática no trato da informação que fere os princípios mais insubstituíveis do respeito absoluto à verdade. Ainda tenta, quando nada, não servir aos seus próprios desejos ou a interesses outros.

Na conversa, com o cuidado de sempre ouvir fontes paralelas bem informadas e isentas, a coluna expressou o que ouviu numa conversa longa. Sentiu que a fonte tinha, de algum modo, a mesma sensação do cronista: o marketing de Alves parecia exógeno, vindo de outro mundo, com pouco conhecimento do candidato e dos seus adversários, numa vagueza clara da falta de um caldo rico da cultura e da história política, se a vida, como queria Chaplin, é um assunto local.

Esta coluna ainda alertou, numa edição também recente, e com certo bom humor, que o marketing é uma bruxaria que sabe construir e desconstruir com a mesma frieza. Principalmente se, e, por razões contratuais, assumiu a tarefa de desmontar aquilo que montou no passado. Não é um trocadilho. É a verdade, pois é assim que o jogo das forças simbólicas se move manejadas por quem tem informações com a força da desqualificação, algo sempre muito rápido e corrosivo.

A Consult é o instituto de pesquisa que mais conhece o chão de Natal, a composição dos perfis urbanos e as suas prevalências estatísticas. Não por ser mais capaz do que os concorrentes, mas pela experiência no tempo, no chão e em sentir as tendências das correntes. Principalmente sob o atrito das flutuações e dinâmicas. Mesmo que se afaste a valorização de alguns detalhes, nada muda: a pesquisa aponta para confronto forte e absoluto e só urnas do segundo turno apontarão o eleito.

O marketing de Paulinho Freire atacou livre e intenso durante todo tempo, com o cuidado de cercar o jogo das contestações no campo jurídico e longe das telas. Sem tempo de tevê e sem aliados, no seu eu sozinho, Alves paga o preço da uma prepotência individualista que pode levá-lo a um duríssimo e imprevisível segundo turno, mantido o retrato que os números da pesquisa Consult revelaram. Segundo turno é uma nova campanha. Com ou sem búzios na mesa da magia.

PALCO

RETRATO – Os analistas da política e as pesquisas estão convencidos de que o segundo turno parece bem cristalizado, com o grande confronto Carlos Eduardo Alves versus Paulinho Freire.

DETALHE – Nas análises, e mesmo que Natália Bonavides possa tirar mais votos de Carlos, o desgaste do governo de Fátima Bezerra desautoriza uma aposta do eleitor no seu crescimento.

GRANA – Da série perguntar não ofende: quanto está custando, até hoje, nesses quinze dias, a draga fundeada no mar de Ponta Negra, só por um erro na avaliação da jazida para a engorda?

LUTA – O prefeito Álvaro Dias já esteve com a empresa Tetra Tech duas vezes, em S. Paulo, autora do projeto que indicou a jazida que chamou de ‘área dois’. Nada tem a ver com o Idema.

MEMÓRIA – “Miguel Arraes – Histórias de lá e de cá”, edição Cubzac, acaba de ser lançado em Recife numa festa democrática promovida no Real Botequim. Livro com muitas revelações.

TIRO – Do cronista Antônio Prata, na sua crônica recente “Venho por meio desta”, cansado de toda mesmice: “Requerer o direito do ser humano e não se pronunciar sobre a treta da semana”.

POESIA – Do poeta Murilo Aranha, autor de ‘Nevroses’, e hoje tão esquecido de nós todos: “Voa mais, mais além, na vertigem da altura, / fugindo horrorizado à pequenez do mundo!”.

CAIS – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, cavando a tristeza avassaladora: “Todo mundo tem um velho cais na própria alma e nas suas pedras dorme sempre um adeus”.

CAMARIM

LUTA – A construção de dois espigões no antigo campo de treino de ABC, nas fraldas do morro, pode ser o próximo ponto de confronto da comunidade e a Prefeitura de Natal que já teria dado autorização para o início das obras. Pode gerar alagamento por falta de uma drenagem adequada.

COMO – O terreno tem propriedade legal e legítima e a empresa proprietária chegou a contratar e oferecer à Prefeitura um projeto de drenagem que vem sendo questionado pelos moradores dos edifícios ao lado do terreno e as casas no sopé do morro nas suas dezenas de anos de ocupação.

ONDE – A área é limitada por quatro duas: Torre, Vicente Farache, Pio Cavalcanti e José Ovídio Vale, esta em plano mais elevado. A Prefeitura precisa encontrar a saída que não gere inundações, e prejuízo. Antes dos protestos e contenda jurídica que pode ser evitada. O MP já foi acionado.

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