Vitória triunfo de Biden e Kamala. Derrota só de Biden
Ney Lopes
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Ontem, 19, “Obrigado, Joe!”, a multidão gritava na Convenção Democrata de Chicago para um presidente que se despedia, após ter passado mais de meio século no palco. Somente agora lhe foi involuntariamente mostrada a saída. O clima era de euforia na vitória dos democratas. Porém, os principais apoiadores de Kamala estão alertando, que tempos mais difíceis estão por vir. Todo cuidado é pouco.
Reflexão política brasileira
A candidatura de Kama Harris à presidência da República merece uma reflexão sobre o que significa de aprendizado para o nosso processo eleitoral. Em primeiro lugar, as circunstancias em que isso ocorreu. Um partido nocauteado pelo desempenho do seu lançado candidato. Em segundo lugar, ao invés de recorrer a pesquisas prévias em relação a aceitação de Kamala, ou, buscar conhecer os seus apoios, ou dinheiro que poderia dispor, os Democratas tiveram a lucidez de escolher um nome credenciado e intelectualmente preparado para o desafio.
No Brasil, predominariam na escolha conveniências pessoais ou de grupos na preservação do poder. Ideias, propostas, boa oratória, imagem respeitada, tudo teve peso decisivo na escolha de Kamara. Realmente, ela – filha de imigrantes e negra – não era uma liderança que pudesse aspirar a presidência. Mas, foi reconhecida como quem poderia crescer na campanha, embora no governo Biden não tivesse aparecido em nada.
Realmente, uma lição para a política brasileira. O candidato, sobretudo majoritário, não é aquele com maior penetração popular no momento, mas o que tiver condições de mostrar inovações político administrativas ao eleitor.
Trajetória de Kamala
Kamala disputara meses antes a indicação como candidata a Presidente dos democratas. Tentou manter uma delicada equidistância entre o setor centrista e o de esquerda. Todavia, um “monstro sagrado”, chamado Trump, aparecia como imbatível. Ironicamente, o momento memorável da pré-campanha de Harris foi um ataque furioso em meados do ano ao presidente Biden, seu então principal rival na Convenção.
Ela encurralou Biden em um debate na televisão pelas suas opiniões sobre a segregação escolar décadas atrás. Entretanto, ela não conseguiu se manter nas primeiras posições nas pesquisas e se retirou, quando estava em sexto lugar nas pesquisas, com um 3, 4% dos apoios.
A nomeação do vice da chapa de Joe Biden foi cercada por uma expectativa enorme. O vice-presidente de um eventual Governo Biden adquiriria relevância sem precedentes. Isto porque, que o candidato, que se tornaria o presidente mais velho a chegar à Casa Branca (ele o faria aos 78 anos) e o vice-presidente seria visto como um presidente potencial.
Biden surpreende
Supreendentemente, Biden indiciou Kamala para disputar a presidência no seu lugar. Ela logo reagiu: “”Estou honrada com o endosso do presidente e minha intenção é merecer e conquistar essa indicação”. A indicação não era automática e surgiram logo os pré-candidatos: Gavin Newsom, da Califórnia; Gretchen Whitmer, do Michigan; e do IIIinois, J.B. Pritzker.
Sem ressentimento e sem perdão
Na hora da despedida, Biden negou que estivesse bravo com todas as pessoas que disseram que deveria renunciar. Ele pode não reconhecer estar bravo, mas também não se esforçou para perdoar. Para o Sr. Biden, a ideia de se render vai contra seu temperamento.
Os abraços, cânticos e aplausos acabaram. Joe Biden desapareceu na noite, deixando a convenção para trás. Não era mais sua convenção, não era mais sua festa e, em breve, não era mais seu tempo. Um novo capítulo está por vir, e ele terá que escrever um novo roteiro.
Julgamento da história
Para o julgamento da história, o “Economist” de hoje estampou: “Uma vitória seria o triunfo dela e dele, mas uma derrota será responsabilidade dele”. Já o NYT colocou em manchete: “O discurso que Biden nunca quis fazer”.
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