Voto não basta – Tribuna do Norte

Voto não basta – Tribuna do Norte
Publicado em 19/07/2024 às 1:46

Vicente Serejo
[email protected]

Houve um tempo, e devo dizer que já são passadas muitas luas, que o voto livre era o que bastava para se fazer um político, ainda que muitos deles não alcançassem o elevado patamar do líder. Com o advento do marketing eleitoral, mesmo que se compreenda a legitimidade do ofício e a força econômica na compra de votos tantas vezes denunciada, o mandato passou a ser um produto à venda, como se a eleição passasse a ser uma fábrica na usinagem de anjos e demônios.

As duas forças, nem por isso, eliminaram o surgimento de líderes, mas é inegável que nos últimos anos são escassas a revelação de novas vocações naturais que encontram no voto o lastro para o exercício da vida política, o que não se faz sem espírito público. A escassez tem maculado a consciência que antes exigia dos eleitos o pudor na defesa do bem-estar individual, afinal não há outro traço mais importante do que a promoção do bem acima de interesses, partidos e ideologias.

O quadro piorou com a chegada do filhotismo, quando a força da paternidade substituiu a vocação em herança ou a simples conquista de status social. Na aldeia ou no alto dos governos e plenários federais, a má formação intelectual, principalmente em razão da pobreza de humanismo, tem revelado muitos mais demônios do que anjos. Tanto que a prática logo cuidou de inventar o baixo clero para acomodar os inexpressivos que só realçam quando despejam o bizarro e o absurdo.

A tese, por ser tese, dispensa citações nominais de perto e de longe. Basta ouvi-los nas suas falas, nos gestos e na formulação das ideias, para tê-los na conta exata da insignificância diante dos seus próprios eleitores e, no campo ampliado, das sociedades pelas quais foram eleitos. A vida pública se faz inevitavelmente num palco, sob as luzes de uma ribalta que quase sempre é um tribunal severo. É preciso ser um excelente prestidigitador para enganar os eleitores anos e anos.

Nesse palco – pra que negar? – há os eficientes prestadores de serviços assistenciais e de obras pontuais que bafejam a popularidade, daí a habilidosa permanência que renova mandatos ao longo, muitas vezes, de décadas. Mas, ainda assim, sem desqualificar a boa-fé com que imaginam servir ao seu povo, quase sempre são omissos nos grandes debates, quando a democracia parece ameaçada e os interesses menores silenciam ou gritam posições injustificáveis para um político.

Sem líderes, convenhamos, uma sociedade não tem uma escola para formar estadistas ainda que o estadista seja a manifestação mais rara no mundo da vida pública. A consciência de servir não nasce em quem, por vaidade ou sobrevivência, apenas deseja ter um mandato e ostentar na lapela o broche reluzente do poder maior ou menor. Quando um político não tem na própria alma a ira santa para combater o mal que ameaça a sociedade, será apenas mais um. E nunca fará falta.

PALCO

GESTO – Vem direto de São Paulo, do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, a brigada de marqueteiros que vai assessorar o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves. Prego batido, ponta virada.

ANOTE – A presença de Vivaldo Costa, na AL, aos quase 85 anos, foi um ganho político para a governadora Fátima Bezerra. O Papa conhece os caminhos entre a Assembleia e a governadoria.

ALIÁS – Sertanejo e médico, homem testado na vida e na luta, Vivaldo gosta de fazer o bem ao seu povo. A vida inteira fez política sem soberba e lavando cada gesto com um sorriso sem mágoa.

SINAL – De um gaiato na plateia da cerimônia de posse de George Soares no TCE: “O abraço da governadora Fátima Bezerra no novo conselheiro foi como se ela dissesse: “Meu abraço diz tudo”.

FEIO – De mau gosto o título da coluna de Flávia Boggio, ‘Meu Pé de Maconha Lima’, inspirado no livro ‘Meu Pé de Laranja Lima’, de José Mauro Vasconcelos. Maior best-seller infanto-juvenil.

DIÁLOGOS – Amanhã, nove ao meio-dia, no Sebo Vermelho, o poeta natalense Roland Cirilo lança ‘Diálogos de Folha e Corda’, seu livro de estreia com a apresentação de Sérgio Castro Pinto.

POESIA – Da poetisa pernambucana Micheliny Verunsckk, o último verso do poema ‘Suicídio’, do seu belíssimo ‘Geografia Íntima do Deserto’, suave como o medo: “Deus se perdeu de mim”.

AMOR – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, nesses tempos ásperos e feitos de tão pouco amor: “Se você é feliz, esconda. A inveja dos medíocres não perdoa a felicidade dos outros”.

CAMARIM

SACADA – Se aqui estamos no fosso da mesmice cultural, não é bem assim que se move a usina das ideias criativas em Itu, SP. A grande pedida é uma exposição do artista visual Renato Gosling – “A verdade sobre a nostalgia’ que abre 29 de setembro e mexendo com velhos ícones do passado.

AVENTURA – Inspirado em giz de quadro negro, carteira escolar, palitos de fósforo e objetos já caídos no desuso, a exposição parte da nostalgia para levar os participante a buscar os laços entre o ontem, o hoje e o amanhã. A ideia de Gosling é instigar no visitante os incômodos com o futuro.

MOITA – A nossa luta aqui é bem outra. O movimento cultural foi confinado a shows contratados à base de milhares e milhares de reais. Findo o rebolado das ancas e glúteos, depois do frêmito, os contratados levam tudo, até os centavos. Não há geração de renda. A não ser para atravessadores.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.