Wallyson, matador da agonia – Tribuna do Norte

Rubens Lemos Filho
Preservar papel velho é missão nobre. A memória é olhada com desdém pelos mais novos, mas ela garantirá que, daqui a 200 anos, esteja intacto o passe de curva de Wallyson para Adeílson no terceiro gol que garantiu o ABC na 3ª divisão no próximo ano. Foi uma jogada do craque puro, genuíno e nascido para vestir a camisa alvinegra.
Wallyson é a cara do ABC vencedor e por isso, não houve rebaixamento. Wallyson chamou para si a responsabilidade e fez uma partida magistral. Adeilson, que recebeu o passe pelo alto, completou o quadro de Goya ao bater, também de três dedos, matando o goleiro do Aparecidense de Goiás.
O jogo do fim de semana foi o único momento sorridente do futebol do Rio Grande do Norte em 2024. O ABC e o América, freguês de Série D, tiveram uma temporada tenebrosa, enfrentando oponentes medíocres e perdendo pontos cruciais. O ABC comemorou o Dia do Fico na terceirona como se a tivesse ganho, o que aconteceu em 2010.
O ABC acalmou seu povo. Tem, agora, a oportunidade de montar um bom time, sem 80% dos pernas de pau que trouxe para este ano. O ABC conseguiu -e só os gigantes conseguem, devolver ao seu torcedor o sorriso de fascinação numa vitória imponente e sumária, posto que valeu como uma sentença.
A terceira divisão é o lugar para o ABC continuar e, consertados os erros administrativos, que estão sendo sanados pelo presidente Bira Marques, poderá chegar à Série B não apenas com o carimbo antecipado de time renegado.
Ninguém viu esquema tático nem alguém acima da média além de Wallyson. Porra, todo mundo sabe que o Magro é craque e soma 35 anos de idade carregando nas costas um caminhão de precários. Ele perdeu um pênalti e pediu desculpas algumas rodadas antes do jogo que definiu com o coração e a frieza letal dos goleadores.
Escalados os onze jogadores do ABC, Wallyson é acompanhado em futebol de qualidade apenas pelo zagueiro Richardson e o volante Wellington Reis. O restante é risível, embora o beque Thuram tenha feito uma partida respeitável contra um adversário fragilíssimo, que abriu o marcador e reapresentou às coronárias em preto e branco o suplício da ameaça de desabamento.
O ABC empatou e só o empate já o garantiria, mas foi embora buscar a virada que chegou, exceto o passe de Wallyson, pela raça, sem vestígios técnicos. Foi milagre o ABC permanecer na terceirinha graças ao seu maior artilheiro e melhor jogador dos últimos 17 anos. Wallyson e o ABC são siameses e a poesia dele é concreta, genuína, estufadora de redes.
Administrativamente, o ABC está bem sob a batuta de Bira Marques na presidência. Bira arriscou perigosamente ao preferir pagar contas e diminuir o passivo da Justiça Trabalhista a contratar uns cinco jogadores que pusessem o time entre os oito melhores da fase classificatória.
Não havia cinco, mas havia Wallyson e enquanto ele estiver, de bengalinha, ainda será o melhor a vestir a camisa do Mais Querido. Wallyson é invejado e carrega a má vontade de analistas semianalfabetos que buscam nas carícias de microfone aos cartolas e na vigilância sobre o artilheiro defentos que não existem.
O ABC deve renovar o contrato de Wallyson para 2025 porque ele tem um saldo monumental em termos de salvação do time. Wallyson é o Alberi remoçado, não que jogue igual a Alberi, mas em termos de referência, ele é o Cara.
A torcida do ABC deve entregar a cada jogo uma caixa de chocolates para quem salva o time das maiores arapucas. O ABC segue na Série C, insiste em berrar o bêbado de antologia e garrafa na mão. Caminhando pela Praia dos Artistas de garrafa na mão e mergulhos perigosos. E a gritar, sem o dom do apreço ao idioma, o nome do seu herói: Wallyson, o matador da agonia.
Desabafo Wallyson só desabafou contra a imprensa porque há radialistas que estabeleceram com ele relacionamento de camaradagem impraticável. Jornalista de verdade, Wallyson, é pago para dizer quando foi bom ou quando foi ruim.
Companhias As más companhias, aquelas que apenas enaltecem para ganhar seus rendimentos, colaboram para azedar ainda mais a convivência da imprensa com o ídolo.
Wassil Wassil Mendes,66 anos, morreu de complicações no combalido coração. Foi um dos melhores laterais do Rio Grande do Norte. Era admirável na direita e na esquerda.
Campeão Wassil foi bicampeão estadual pelo América em 1981 e 1982 com um timaço e venceu o campeonato estadual de 1984 pelo ABC.
Fluminense Em 1980, Wassil foi campeão carioca pelo Fluminense na reserva do titular Rubem Galaxie. Serviu à seleção brasileira de juniores no final da década de 1970.
Dudu Machado Dudu Machado deve ser candidato a presidente do ABC. Seu tema é sangue novo, juventude. Aí é postada foto com o ex-presidente Judas Tadeu. Cadê o novo?
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